9.09.2008

Agosto em Setembro (Posters do Ano - IX)


Se eu dissesse que este filme, é o melhor filme português que este ano já teve (para além de não ser coisa difícil de acontecer) estaria a dizer a verdade, mas mais do que isso, se eu dissesse que este é um dos 10 melhores filmes que este ano nos vai oferecer (e digo isto com uma certeza quase absoluta) também não estaria a mentir.

Mais do que um humor característico e certamente curioso, este é um filme que consegue, partindo das adversidades da sua produção, ganhar (em vez de perder, como é comum) qualidades.

Mas mais importante do que as suas capacidades, inovações, curiosidades, características, temos um filme quase sob a forma de tese, que questiona, O que é a ficção e a realidade.

Um plano único mostra este maravilhosa faca de dois gumes, um simples plano, em que temos uma rio e se vê colocar um filtro na objectiva da câmara de filmar, como se fosse o filtro que transformasse a realidade em ficção, como se fosse o maior ou menor contraste das cores de um plano, ou fotograma a definir o que é documentário, do que é a dramatização.

Num só plano vê-se a mestria de um realizador.

Mas não nos reduzamos a um único plano. A entrada de uma rapariga local para a produção do filme e a sua introdução, mais à frente como actriz (que não é de facto) e em que a sua representação é visivelmente forçada na qual acentua descontextualizadamente as palavras que usa dando um tom forçado e artificial ao que diz, transforma esta cena (teoricamente encenada) parecida com a realidade (que aqui se traduz na incapacidade de representar da rapariga, ou seja com a artificialidade da encenação) mais do que o momento (teoricamente não encenado) da candidatura da rapariga ao dito papel, parecendo aí não existir qualquer tipo de encenação, assemelhando-se a uma cena documental (que não é de facto).

Tudo isto leva-nos a perguntar (estes momentos cinemáticos), O que é a realidade? E a ficção?
Numa sequência final extraordinária temos o técnico de som a dizer que a Floribella e o major Valentim Loureiro não são realidade, realidade é sim a música que os Ases do Alva tocam ao fundo numa qualquer povoação próxima.
Era tão bom que a realidade fosse possível de controlar, arrumar e limpar, tirando-lhe o que desgostamos e deixando ou acrescentando apenas aquilo que é a realidade no seu verdadeiro sentido: que é o prazer e a felicidade, os momentos doces da existência.

Aquele querido mês de Agosto é uma das obras mais criativas do cinema português, aconselhável a todos os que gostam de cinema no seu verdadeiro íntimo. O filme, que vi numa sala de cinema, que mais me surpreendeu desde o princípio do ano, uma OBRA-PRIMA inegável e resultado de uma imaginação e de uma capacidade tão portuguesa de improvisar e de fazer coisas maravilhosas quando tudo parece opor-se.

Um documentário (que não é) embrulhado numa ficção (que também não é), formando uma contaminação da realidade na encenação e da artificialidade na naturalidade.

Uma Obra-Prima, verdadeira, autentica e sincera. Um filme irrepreensível.

O poster leva ao Trailer
10/10- Genial

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