Mostrar mensagens com a etiqueta depressa que tenho pressa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta depressa que tenho pressa. Mostrar todas as mensagens

3.17.2012

Eu gosto (começar um texto sobre War Horse com 'eu gosto' deve afugentar muita gente) de filmes que assumem a sua vertente inchada. Acho graça aos filmes que vivem nessa corda bamba dos exagero, do ridículo, do piroso. War Horse é um filme que quer ser assim, mas não consegue. Plano fundamental que justifica esta perspectiva é esse em que o arado puxado pelo ainda potro fracote, num impulso de força e sorte, racha um calhau em dois. Spielberg a achar-se Ford é uma coisa divertida de se ver, ainda para mais quando o moralismo de um se ajusta tão mal ao outro (embora Ford não seja realizador inocente nessas coisas). Outro aspecto que aponta neste sentido é esse receio de filmar a morte de frente. Durante a primeira hora de filme vemos o realizador que se cimentou com filmes sobre o acto de matar a evitar mostra-lo. Primeiro é o capitão que morre o entre ir vir de um contra-campo, depois os miúdos que são executados na sombra de uma vela de moinho, e depois um cavalo que é abatido num fora de campo. Claro que depois ele não consegue resistir mais e tem que lançar-se na senda Private Ryan e da guerra do tiro no miolo com salpicos de sangue. É mais que tudo curioso ver Spielberg tão claramente fora do seu meio e tão desejoso de fazer diferente; mas é pena que caia na funda cova do seu umbigo.

3.16.2012

Demme percebeu que o elemento fundamental do cinema de terror (e derivados) é essa coisa da câmara subjectiva; portanto construiu todo um filme em redor dessa coisa que é o olho. Os campos contra-campos de 180º são-no assim para que vejamos os actores nos olhos, mas mais que isso, para que vejamos pelos seus olhos. É assim que surge o terror, sentir-mo-nos na pele do monstro (e não há cá dimensões de humanidade) e sabermos que somos impotentes nas suas (e logo nossas) atrocidades. Daí que a cena culminante de pavor é aquela em que estando apagadas as luzes passamos a ver Foster pelos óculos de visão nocturna do (cerial) killer, mas mais pavor se acrescenta pelo facto de (por estar escuro) ela não ver o papão (ou seja nós). 

1.20.2012

Mas quem? tu?! ah! pois é.

O que encanta em Midnight in Paris de Woody Allen é a proeza de escrita que se concretiza no refinadíssimo humor da referência artístico-erudita. Ou seja. Allen desenvolve um jogo de engodos com o espectador. Leva-nos a um imaginário povoado de personagens maiores da cultura do início do século, mas não nos apresenta o dignos senhores. Sabemos que quem estamos vendo é alguém que conhecemos dos livros ou pelo trabalho, mas ao qual nunca associamos uma corporização. O jogo desenrola-se com o tentar descobrir que é quem. Mas quem? tu?! ah! pois é. Qualquer outro teria caído na esparrela de aprofundar os ícones, dar-lhes profundidade, mas o que interessa é mesmo o boneco, a caricatura espampanante. Enfim, é um jogo do 'Quem é Quem?' edição 1930 - famosos. Uma guloseima.