É curioso reparar como de facto a proximidade entre as duas imagens acima não é meramente acidental. Vendo ambos as hiperligações indicadas percebemos que quer Salaviza quer Hicthcock percebem que podem, num plano definir um passado. Hitchcock prefere um plano sequência que apresenta o protagonista, depois o seu estado (de enfermo) depois a sua profissão (pela câmara fotográfica), o acidente que se deu pelo seu trabalho na fotografia de eventos desportivos. Salaviza, prefere o plano fixo, mas dá-se o mesmo: conhecemos o nosso homem, depois ele deita-se e tomamos conta do seu estado (de prisioneiro). Curioso é também percebermos como o facto de estarem incapazes de se ausentar de casa se traduz num efectivo grilhão (de gesso ou electrónico).
[estou muito expectante para ver as últimas duas curtas do Salaviza no indie (Rafa e Cerro Negro), e há ainda uma outra a passar no Panorama (Strokkur)]
Todos os anos tenho feito isto, uma apresentação das curtas nomeadas para os oscars, este ano, ficou-me pelas animadas, uma vez que são as únicas disponíveis na penumbra que envolve os recantos escuros da internet. Dos cinco títulos, há um que é certo ter sido visto por os que aqui me lêem, ele é Night and Day [completo] a habitual curta da Pixar que acompanha as longas em sala (nos anos anteriores tivemos Presto e Partly Cloudy), este ano, no enanto, temos um filme que é o mais puro dos cinemas (foi a meu ver o melhor momento da exibição de Toy Story 3). Madagascar, a jouney dairy [completo] é por outro lado um belíssimo exercício de cinema, temos um livro de viagens, um caderno de aguarelas e desenhos a carvão animados e musicados de tal forma que a viagem que experimentamos é absolutamente deliciosa. Let's Polute [completo em francês] é um título curioso, por ser aquele, dos 5, que tem animação menos cuidada (a fazer lembrar os anúncios animados dos anos 60) que se constrói como uma propaganda a favor da poluição, avisando-nos que é nosso dever poluir para bem da comunidade.
As curtas animadas da BBC são também presença comum nestas listas (nomeadamente com os filmes da aardman), The Gruffalo [completo] é o caso; adaptação de um livro infantil conta com um elenco de luxo nas vozes, entre eles Helena Bonham Carter, Tom Wilkinson e John Hurt.
Por fim o mais fraco dos cinco, The Lost Thing [completo], que conta a história de um moço que encontra na praia uma estranha criatura e da sua aventura para encontrar um lugar bom para a deixar.
P.S.: As imagens correspondem aos filmes pela ordem em que são apresentados. Os vencedores de anos anteriores foram A casa do pequenos cubos uma curta lindíssima sobre um homem que regressa às profundezas da sua casa subaquática e vai recordando as etapas da sua vida e o ano passado venceu Logorama uma outra curta que contava uma história de acção com perseguições e tiroteios mas toda animada com logótipos de marcas internacionais. Madagascar, a jouney dairy e Night and Day são os meus favoritos.
Above and Beyond (2005) de vários [à esquerda] e Up (2009) de Peter Docter e Bob Peterson [à direita]
Esta colagem é feita por Peter Sciretta do famoso blog /Film, a propósito da polémica que envolve a origem da ideia de Up, filme de animação da Pixar que se aproxima muito de uma curta francesa de alunos de animação (Above and Beyond). Ler o artigo é compensatório, principalmente pela imparcialidade e pelo facto de tentar esclarecer os mais cépticos (como eu) que gritaram logo plágio, assim como permite o acesso à dita curta.
A propósito da estreia de Inception, novo filme de Christopher Nolan, é conveniente lembra ou descobrir as origens deste cineasta que nos trouxe filmes como Memento, Insomnia e Dark Knight. É interessante reparar na presença constante da perturbação mental, mais ou menos patológica, e do papel do subconsciente na narrativa das suas obras, onde DoodleBug (primeira curta do realizador) não é excepção. Como o título indica é sempre um chavão crítico encontrar em primeiras obras as sementes de uma carreira, mas neste caso não só a chave encaixa como seria desconsideração não reparar nisso. Por estas bandas enormes são as expectativas para este novo filme.
[A propósito de Vila do Conde, onde esta curta estará presenta, antecipo-me aqui com um lindíssimo trabalho de Jonze, uma história de amor entre dois robôs, que vive do mais puro dos amores - precioso]
P.S.: Para quem quiser ficam aqui (1,2,3) em episódios do youtube
Desde 2004 que o festival de curtas de vila do conde tem uma secção competitiva de videoclips, o ano passado fiz uma publicação sobre esta secção competitiva apresentando todos os concorrentes (o viedoclip é uma forma de arte vídeo que abunda na internet, sendo por isso mais fácil de aceder que as curtas), este ano faço o mesmo e da mesma forma que organizei a secção por interesse (meu), a negrito e em maiores dimensões estão aqueles que creio serem melhores, sendo que os outros decrescem proporcionalmente.
A salientar a presença contínua de Romain Gravas, que o ano passado esteve com o muito polémico clip dos Justice e agora se apresenta com o não menos chocante clip de Mia (um dos melhores). OK GO que tinham um muito divertido clip com passadeiras de corrida entram em competição com um divertido jogo de dominó; os Papercutz têm um dos mais cativantes videos (em parte português) que combina habilmente a música com a imagem num sentido quase hipnótico. O clip dos Massive Attack (banda que não falta um ano em Portugal) tem também um video musical em forma de documentário sobre o cinema pornográfico e uma das suas caras mais conhecidas. David Fonseca é uma das poucas participações portuguesas, ele que antes de se dedicar à musica se licenciou em cinema, realiza o seu próprio clip. Os Coldplay têm um vídeo divertidíssimo que provavelmente já conheciam da televisão. Synesthesia é um dos mais curiosos, assim como o Bop e Look, respectivamente de Brand Brauer Frick e Sebastien Tellier.
P.S.:João Pedro Rodrigues é um dos maiores cineastas mundiais no activo e no início de carreira (ao lado de um Jason Reitman ou um Arronofsky, para pensar americano), na cinematografia portuguesa é difícil haver estreias tão avassaladoras como o intemporal O Fantasma, ainda mais quando o segundo é o (fantasmagórico) Odete, pena minha não ter visto Morrer como um Homem. China, China era um bombom amargo e agora parece que vem um documentário sobre Macau; tudo o que vier é bem vindo.E claro esta curta é qualquer coisa de sublime, um regalo.[já aqui tinha falado]
Esta é a estreia de Juanita Wilson nas artes da realização, no entanto já recebeu 4 prémios em festivais e círculos de críticos, entre eles o Irish Film and Television Awards, do qual podem ver os agradecimentos aqui. O filme passa-se na Ucrânia (falado em russo) e centra-se na população moderna que ainda vive com as consequências do desastre de Chernobyl. Tudo começa com o roubo de uma porta, coisa absurda e que é mote para seguirmos o ladrão e compreendermos a origem da rapinação. No link que leva o trailer, na verdade, podem ver dois clips do filme, que são mais do que explicativos.
Istället för abrakadabra de Patrik Eklund (trailer,imdb)
O realizador que tem nesta, a sua terceira curta, tendo já realizado uma outra e iniciado o seu trabalho na televisão Sueca (país de Lar Von Trier e de onde veio o filme de vampiros revelação- Le The Right One In), que neste trabalho nos trás uma comédia sobre um jovem a quem é dada a oportunidade de entreter a família no aniversário do pai com os seus números de magia (se prometer arranjar um emprego e sair definitivamente de casa dos pais). Vivendo da situação de anti-herói do protagonista, o humor surge maioritariamente da antecipação que se gera sobre o grande espectáculo.
Seguindo um pouco a onda se Slumdog Millionaire, esta curta foi filmada na Índia, em Hindi, e que retrata a vida de um rapaz (Kavi) nos trabalhos forçados a que a sua baixa condição social obriga. Gregg Helvely (que é aqui produtor, argumentista e realizador) trabalhou com a BBC e na feitura de documentários, daí que a sua curta (esta é a sua segunda, sendo a primeira um documentário sobre o poder da pornografia na intimidade) esteja banhada de um realismo documental cru. A compra do DVD com o filme, produz um donativo de 30% para combater a escravização de crianças pelo mundo. Com esta curta, o realizador ganhou a medalha de ouro da Student Academy, assim como outros prémios em diversos festivais.
Este é o único dos cinco nomeados, que temos o direito de ver na integra pelos caminhos obscuros da Internet. E seria de facto um crime se assim não fosse, filmes como este tem a obrigação de ser mostrados às pessoas, de uma delicadeza invulgar e recheado da mais saudável tradição americana (o síndrome Colombine e a própria organização da narrativa). O realizador e argumentista Luke Doolan, tem vindo a ser montador de várias curtas (entre elas Spider que recebeu o prémio em Sundance na sua categoria), assim como director de fotografia em outras tantas. Esta é a sua terceira aventura e a primeira na área do drama (as outras duas eram comédias). Miracle Fish, que tem ganho uma série de prémios em festivais do género (e não só), trata de um miúdo de 8 anos, que no dia do seu aniversário, vai para a escola como é seu costume, descrevendo os acontecimentos que decorrem nesse dia.
Tendo como protagonista Vincent D'Onofrio (e outros actores mais conhecidos da televisão), esta é a estreia do realizador Joachim Back, sendo que o seu argumentista Anders Jensen foi nomeado para esta mesma categoria por três vezes, tendo ganho uma delas (sendo também o argumentista do muito antecipado Brothers). Num dia de mudanças, Jan e Zelko ocupam uma casa, onde todos os vizinhos são estranhos, desde o traficante de drogas, ao religioso, passando pelo adepto de armas de fogo. Naquele que será certamente o pior dia de mudanças, os novos donos do apartamento descobrem que todos os ex-proprietários morreram. Balanceado entre o drama e o humor negro (com toques de romance).
Como fiz o ano passado, e numa tentativa de não dar mais evidência aos filmes 'grandes' dos Oscars, apresento os nomeados ao Oscar de melhor curta de animação (literalmente pequenos, leia-se em duração), 5 filmes: um francês, outro irlandês, o seguinte espanhol, o quarto americano e o último britânico. Todos os filmes têm links que levam ao filme completo.
Se fosse eu a mandar dava o prémio a Logorama, se não a French Roast, mas para minha infelicidade, o grande concorrente é Wallace and Gromit - A matter of Loaf and Death (que é uma delícia, diga-se de passagem).
Dentro de dias publicarei um artigo semelhante, na categoria de melhor curta de ficção.
French Roastde Fabrice O. Joubert (completo,oficial,imdb) Este também de 2008, é sem sombra de dúvidas um dos melhores dos 5 nomeados, na linha da animação europeia e de um humor tão refinado como eloquente. Conseguimos ter em 8 minutos um enquadramento particular da crise económica actual, envolta numa moral, crente na bondade. Sem falas, tudo se passa dentro de um café, onde um senhor distinto não tem dinheiro para pagar o café, em vez de ser humilde e avisar que se esqueceu da carteira, prefere roubar uma velhinha. Sem dúvida um dos meus preferidos. Vencedor do Cordoba Animation Film Festival. O realizador Fabrice O. Joubert tem aqui sua primeira obra singular, apesar de ter participado nos departamentos de animação de filmes com O príncipe do Egipto, O Gang dos Tubarões, Spirit, Por água a Baixo e Wallace e Gromit - A Maldição do Coelho-Homem.
Granny O’Grimm’s Sleeping Beautyde Nicky Phelan (completo,oficial,imdb) Esta é uma animação Irlandesa; divertida forma de encarar as fábulas clássicas e de inverter os clichés. Em vez de uma carinhosa avó que vem ler uma história para que o seu neto adormeça, temos uma avó resingona que obriga o seu neto a ouvir as suas histórias, apesar de ele estar apavorado com as mesma (não conseguindo mesmo dormir com o terror). A bela adormecida é o ponto de partida, só que a avozinha identifica-se com a bruxa má e dá-lhe uma outra dimensão, de renegada. É maravilhoso vermos a forma como se combina sem fricção a animção 2D com a 3D. Vencedor do Irish Film and Television Awards.
La dama y la muertede Javier Recio Gracia (completo,oficial,imdb) Esta curta produzida com apoios do governo espanhol, é a prova de que o género está a crescer no nosso país vizinho, feito por alguns dos mesmos técnicos de Planet51, esta animação digital trata da luta entre a vida e a morte (ou melhor, entre o médico e a morte), tocando ao de leve em temas tão duros e frios como a eutanásia ou o suicídio assistido, sempre com um tom leve e divertido, sem falas, mas com uma incisiva aposta no requinte visual. Apenas falha (a meu ver) num excessivo humor que se encontra entre Bennie Hill e Looney Tunes.
Logoramade Nicolas Schmerkin(completo 1 e 2,oficial,imdb) Passou por Vila do Conde e pelo Cinemanima, ganhando nos dois prémios o prémio do público e no segundo o do júri. Apresentado em Cannes, esta é a primeira obra do realizador de videoclips Nicolas Schmerkin (Alex Gopher, Massive Attack, Goldfrapp, Röyksopp), que conta com a participação como actor de David Fincher. Um assalto, uma perseguição de carros, uma situação de reféns, um desastre natural, o fim da humanidade, tudo em animação e melhor que isso, tudo usando imagens marcas (Logótipos) como o boneco da Michelin ou o palhaço da McDonalds ou os bigodaças das batatas fritas. Consegue-se falar e forma acutilante da sociedade americana presa num capitalismo tétrico, mas ainda se dá um pozinhos de crítica política com uma reconstituição de Orleans depois do Katrina. Um filme fora de série, de uma originalidade inigualável. Para mim o vencedor por mérito. Os vídeos no youtube, andavam um pouco instáveis.
A Matter of Loaf and Deathde Nick Park (completo,oficial,imdb) Wallece and Gromit estão de volta, a Aardman Animations tem nesta dupla a sua imagem de marca, com a qual Nick Park já recebeu o Oscar de melhor longa animada (The Curse of the Were-Rabbit), dois Oscars por melhor curtas animadas (A Close Shave e The Wrong Trousers). A Matter of Loaf foi a curta vencedora nos Annie Awards o ano passado (destronando a curta da Pixar Presto). O link para o filme completo é o melhor que arranjei, mas não é grande coisa, demora muito tempo e no final temos direito à programação da BBC. Os vinte e tantos minutos da curta contam-nos a história de dois padeiros e da paixão de um deles pela figura promocional de uma marca de farinhas; uma divertida história de acção com explosivos e massa de pão.
P.S.: É curioso perceber que quase todas as curtas apresentadas têm o tema da velhice subjacente.
Salaviza, vencedor da Palma de Ouro para melhor curta-metragem por Arena, é um jovem cineasta português que até agora só realizou duas curtas metragens. Sendo que Arena será distribuída comercialmente, juntamente com TakingWoodstock de AngLee, a partir do dia de hoje (17 de Setembro), proponho que se veja o primeiro exercício filmado, que Salaviza realizou ainda na ESTC, e que ganhou o prémio para melhor curta portuguesa em Vila do Conde tendo sido seleccionado para um série de festivais internacionais (lista que podem consultar, clicando na hiperligação por cima do vídeo). Não tendo ainda visto a maravilha que deverá ser Arena, posso apenas pronunciar-me quanto a este trabalho, sendo que devo referir-me à dicotomia (mais do visível) do simples/complexo. Por um lado temos um filme em que apenas uma (de duas) personagens fala, com apenas três linhas de diálogo com meia-dúzia de palavras em cada; por outro lado temos a magnífica prestação de dois actores exímios, que conseguem extravasar toda uma humanidade e emocionalidade sem falar. Mas as dicotomias não se ficam por aqui, o singular/plural, isto é, a forma como um quarto representa o mundo ou como dois indivíduos sem nome representam todos os avanços e recuos que formam a teia das relações humanas. Um filme de gestos. Coisa rara num cinema cada vez mais televisivo (A esperança está onde menos se espera e SecondLife são bons exemplos disso) que vive primordialmente de diálogos (normalmente mal escritos) e de interpretações óbvias (mesmo vindas de actores de grande gabarito). Por oposição [duas pessoas] vive de uma encenação em profundidade exímia, de uma elipse na mesma proporção e de uma sinceridade na encenação de actores (coisa que ao que parece é comum na obra mais recente de Salaviza). O pouco cinema de Salaviza já nos mostrou que gosta de arquétipos, indivíduos sem nome que na sua singularidade representam o mundo inteiro, mostrou-nos ainda que consegue dar a conhecer a história completa da vida dos seus personagens apenas com um enquadramento, apenas com um relance (quando a mulher bate à porta e entra com o casaco de peles em pose, está tudo dito).
Enfim: espero que esteja para breve a minha visualização de Arena e espero também que estejam para breve os próximos trabalhos de Salaviza.
Depois de 3x3 (Nuno Rocha, prémio da Zon, acompanhava o Slumdog Millionaire), de A Felicidade (Jorge Silva Melo, correntemente em exibição com o novo filme de Agnés Varda) e de Rencontre Unique (Manoel de Oliveira, integrado no filme dedicado aos 60 anos de Cannes), espera-se a nova curta de Pedro Costa (Ne Change Rien); a obra vencedora da palma, pelas mão de Salaviza - Arena- e claro o vencedor nacional das curtas de Vila do Conde: Canção de Amor e Saude de João Nicolau; sendo que os três últimos tiveram todos presentes na última edição do festival de Cannes, quer na Quinzena dos Realizadores, quer na secção competitiva.
Apesar de não haver muitas certezas, certo é que a película vencedora de Plama de Ouro e do prémio do indie terá estreia garantida (mas segundo o jpn isso não está assim tão certo, segundo ao dn as coisas são menos dramáticas). O filme de Costa, segundo o que li, acompanhará o nova longa de João Pedro Rodrigues (Morrer como um Homem), quando esta se estrear em 5 de Novembro (segundo a distribuidora Midas), sendo que já tem estreia assegurada para os EUA, França, Espanha, Japão, Áustria, Suíça e Argentina. Quanto ao filme de João Nicolau, segundo o que percebi, terá uma exibição diferente do que é normal, ou seja, terá sessões próprias a custo reduzido uma vez por dia, como se fosse uma longa; a ver vamos de resulta!
A par da produção nacional, este ano terá ainda, para além dos filmes de conjunto Chacun son Cinema (do qual já aqui falei) e New York, I love You (versão americana de Paris, je t'aime), a habitual curta da Pixar (Partly Cloudy) e uma outra curta animada (A Maior flor do Mundo, curta espanhola narrada por José Saramago, que acompanha a longa De Profundis a estrear esta semana).
Que eu me lembre no ano passado não estreou uma única curta portuguesa nas salas e quanto às estrangeiras só me lembro de Presto (com WALL.E) e Hotel Chevalier (com Darjeeling Limited), em oposição, este ano, se contarmos com os filmes de conjunto, passarão pelas nossas salas perto de 48 curtas.
Então, que podemos concluir desta enchente informativa? Creio que a resposta seja uma das quatro opções seguintes.
Tudo se trata de um fabuloso alinhamento estelar do Universo que permitiu que todas as circunstâncias se reunissem de modo ao que 2009 seja um dos anos mais favoráveis à produção de curtas portuguesas
Produzem-se mais curtas e melhores em novas produtoras, mais jovens e ousadas, permitindo um progressivo melhoramento do panorama nacional deste tipo cinematográfico
Existem mais e melhores distribuidoras, com ideias frescas e com a audácia de conceder o mesmo estatuto de um filme (dito normal) a uma curta metragem.
Todas as anteriores
P.S.: Ne Change Rien não é uma curta mas sim um documentário de 97 minutos, peço desculpa pela informação incorrecta.
Como todos os anos (desde 2004), o festival de curtas de Vila do Conde tem uma secção para os videoclips (Competição de Vídeos Musicais), este ano não é portanto excepção. Como já se institucionalizou, os telediscos são uma forma de video-arte ou mesmo cinema (para não usar esse nome tão depreciativo que é, Televisão) tão importante, criativa e inovadora como qualquer outra; são espelhos da actualidade, das necessidades do público e sustentam-se em conceitos originais e/ou experimentais. Dos 16 filmes em competição, os que estão em grande e a negrito correspondem àqueles que mais me agradam, o tamanho decrescente é directamente proporcional ao meu gosto. De lembrar a presença dos Radiohead - nomeadamente com Nude e House of cards, cuja hiperligação leva também ao making of - por três vezes (numa secção tão pequena) o que indica um bom gosto da banda ou simplesmente uma produção musical muito inspiradora, assim como os divertido Who's gonna save my soul e Toe Jam e os quase documentários Nothing to worry about e stress, sendo que o segundo já havia provocado a sua dose de controvérsia no verão do ano passado. (as hiperligação levam aos respectivos videoclips no youtube)
Aconselho o interessante artigo do Ípsilon sobre os riscos que a emergente Industria de Cinema Nigeriano está a sofrer por causa da pirataria de DVD, os quais inicialmente a propulsionaram.
Com a morte de Michael Jackson (MJ), muitas vozes se levantam, exaltando o génio do músico. Há que ter a noção que MJ foi e continuará a ser um símbolo maior no panorama musical, e na instituição na cultura POP massificada do conceito de videoclip, poder-se-á dizer que sem MJ não haveria MTV como a conhecemos, mas verdade seja dita, os seus tempos áureos passaram, e desde a mudança de cor e o escândalo da pedofilia, que as dívidas eram maiores que os rendimentos - ouvi mesmo um comentador dizer que MJ vale mais agora morto do que quando em vida.
Mas verdadeiramente Thriller não é um videoclip, ou pelo menos não o é segundo os parâmetros actuais, é sim, uma curta-metragem, de um realizador na altura em ascensão (John Landis que há altura já havia realizado An American Werewolf in London, sendo que a sua carreira tem vindo a descer de nível, passando cada vez mais pela televisão e já tendo recebido três nomeações para os Razzies- não que estes sejam um indicador seguro), que por acaso tem uma coreografia lá no meio com o cantor e a música que intitula a curta.
Mas o bom gosto pela tele-disco e a marca de MJ não se ficaram por Thriller, outras músicas mais tarde e já instaurada o conceito de vídeo musical na televisão como 'a' forma de ver música e objecto indispensável na divulgação massificada, veio Bad (1 e 2), realizado por um senhor maior - Martin Scorsese - que mais uma vez fez um curta que lá no meio tem uma música coreografada homóloga ao filme, mas que até parece um anexo, pela negritude de todo o filme em oposição aos pulos coloridos de MJ durante a cantoria.
Anos mais tarde e já com uma cor diferente, MJ chamou Spike Lee para filmar no Rio de Janeiro They Don't Care about us, que se enquadra na perfeição nas conhecidas posições políticas do realizador quanto ao racismo e discriminação.
Michael Jackson marcou perfundamente a forma como se 'vê' música, universalizando o formato de Tele-disco, e daí, mudou completamente a forma como se passou a fazer televisão e cinema, basta ver Moulin Rouge ou Requiem for a Dream. Por isto o seu desaparecimento é um grande golpe na história do século XX e na história da música e do cinema.
De 35 realizadores, fizeram-se 33 curtas de 3 minutos que tivessem obrigatoriamente alguma referência a salas de cinema (lugar comum a praticamente todas), sendo que o mote era a comemoração dos 60 anos do festival de Cannes. Na cópia portuguesa, eu não me lembro de ter encontrado a curta dos irmão Coen nem a de Michael Cimino (se alguém souber o contrário, agradeço o reparo). As seguintes curtas são as 5 que eu considero melhores, por ordem decrescente, sendo que a última é simplesmente uma menção honrosa.
At the Suicide of the Last Jew in the World in the Last Cinema in the World - David Cronenberg
Dans l'Obscurité - Irmão Dardenne
Where is my Romeo? - Kiarostami
Occupations - Von Trier
Artaud Double Bill - Egoyan
'Menção Honrosa'
The Electric Princess House - Hsiou-Hsien Hou
P.S.: Ficam ainda os merecidos parabéns para o filme de Oliveira, Van Sant, Moreti, Tsai Ming Liang, Walter Salles e Chen Kaige. No entanto nem tudo são rosas, o filme de Jane Campion e o de Wim Wenders são muito (mesmo muito) a baixo do seu nível.
Num post anterior introduzi todas as curtas animadas que estavam a concurso para os oscars, tendo apresentado apenas 3 na sua integra, o vencedor acabou por ser La maison en petit cubes; agora já é possível vê-la. Aconselho vivamente e para além disso o vídeo tem muito boa qualidade e apesar de tudo são só 12 minutos, e vale muito a pena.