9.15.2008

De fazer chorar as pedras da calçada II

Chorar é coisa, que mesmo que não tão comum como outras actividades, faz parte intrínseca da minha experiência cinematográfica, eu devo admitir que sou um choramingas de primeira, até no Notting Hill; no entanto à filmes que se gravaram na minha memória pela água que eu derramei pela vista (bela frase esta!), alguns deles são, entre outros, Shindler's List, Elephant Man, Philadelphia, o recente Into the wild ou o também recente Mio Fratelo e fligio único ou o Happy together ou mesmo o BrokeBack Mountain, Dancer in the Dark (do grandíssimo Lars Von Trier que tem filme novo - hei de falar disso), The Color Purple, A.I. e agora muito recentemente o Away from Her.

Toda esta conversa tinha como propósito criar uma introdução para o post, ou seja, foi feita com vista a falar de Away From her, um filme maravilhoso, mais do que um simples melodrama, muito mais maduro e conciso que, o já por si óptimo, The Savages, que têm em comum o facto de terem sido editados directamente para DVD ao contrário do que o percurso nos festivais e nos Oscars podia adivinhar.


Resumindo a história, temos um casal que para além da idade poderia ser muito bem um casal adolescente (só que com muito mais experiência) em que a senhora (a mitológica figura Julie Christie- como João Lopes lhe chamou- que entre outros fez Doctor Jivago e que por este papel neste pequeno filme canadiano ganhou o globo de ouro e esteve nomeada para o Oscar sendo uma das grandes candidatas) devido à sua idade avançada começa a ter problemas de memória até chegar ao Alzheimer (puro e duro) no que de pior este tem e do drama associado à sua colocação num lar.

Uma das mais belas histórias de amor que o grande ecrã (e no meu caso e no caso da maioria dos portugueses no pequeno) que apesar das adversidades perdura e toma formas diferentes de mostrar um mesmo amor, que deixa de ser directo e passa a traduzir-se em simples olhares distantes e mesmo a possibilidade de aceitar um outro amante para fazer mais feliz a pessoa amada.

No entanto o filme, como se podia esperar, não cai nesta simples 'empastelação' da história melodramática e extravasa para um campo muito mais violento que é a culpa, não só de a colocar lá (na instituição), mas sim, e muito mais impressionante a nível emocional, a incapacidade da mulher se recordar do marido que amava e isto ser encarado como uma forma de punição por casos extraconjugais que depreendemos terem acontecido.

Um filme que trata de forma correcta, inteligente e sensata as emoções do seres humanas, tratando-os como tal, como pessoas complexas com relações complexas e emoções e sentimentos que não se reduzem ao amor e ao ódio de que as produções telenovelescas estão cheias.

Um filme que é capaz de perturbar qualquer um em qualquer altura, um doce-amargo uma surpresa avassaladora.


10/10- Maravilhoso

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