10.06.2008

To(ro)nto Fi(l)m (F)estival 2008

O festival de cinema de Toronto acabou e deixou uma meia dúzia de filmes que devemos tomar atenção nos próximos tempos.

Um dos casos não seria grande descoberta, para quem estivesse atento ao festival de Cannes, o filme que ganhou lá em Toronto o prémio DIESEL discovery award foi o mesmo que em Cannes ganhou a Camera d'or (prémio equivalente à palma só que para novos talentos e primeiras obras), o filme em causa é Hunger de Steve McQueen (não o actor que já morreu, mas sim o artista plástico britânico que fez a sua primeira obra na área do cinema) que trata da greve de fome de um dos presos políticos do IRA (Bobby Sands) aquando da governação de Margaret Thatcher.
Segundo a crítica (do site do festival, João Lopes sobre o cinema e a politica em cannes, João lopes sobre Hunger e Quatro Noites com Ana com comentário áudio) o filme não foge á violência visual mesmo quando esta é indegesta e mostra com um rigor realista e acutilante as últimas seis semanas de Bobby Sands.


Também made in U.K. vem o novo filme de Danny Boyle (todos se devem lembrar de Transpoting, mas que também fez The Beach, 28 Days later, Millions, Shallow Grave e Sunshine)
que depois de filme de zombies, filme sobre à margem da sociedade - toxicodependentes-, ficção científica, drama psicológico, comédia juvenil, trás agora um romance cómico dramático indiano (Slumdog Millionaire), sobre uma menino de rua indiano, muito pobre que decide participar na versão indiana do 'Quem quer ser milionário?' só que apesar de ter o país todo a assistir ao seu enriquecimento, a policia desconfia que um rapaz pobre e sem abrigo seja detentor de uma cultura tão alargada.
O filme venceu o prémio do público o que costuma ser uma aviso para os oscars.


Outro dos vencedores foi um filme indie americano Lymelife, que recebeu o prémio da crítica internacional para o filme descoberta (Fipersci), o realizador foi um dos argumentista que criou o filme de 99, vencedor do prémio do filme descoberta (Goat on Fire and Smiling Fish,), e o dito senhor chama-se Derick Martini.
O filme com Alec Baldwin trata da vida de um adolescente nos 70' e de tudo a que isso se pode associar, divorcio dos pais, dinamica familiar, primeiro amor. O filme é uma comédia dramática (Dramedy) com alguns toques de violência e tragédia que eu coloco já no conjunto de nomeados dos oscars (fazendo o papel de filme indie que os últimos anos nos têm vindo a habituar - Sideawys, Litle miss Sunshine, Juno, Capote, The Savages, Venus, Away from her, entre tantos outros). No entanto a crítica do /film não ajuda muito à festa.


Disgrace é a adaptação cinematográfica da obra de Coetzee que aponta o dedo a um clima de pos-apartheid ainda presente na Arica do sul dos dias de hoje.
Um professor que tinha iniciado uma relação com uma aluna na cidade do Cabo para evitar problemas muda-se de uma cidade para outra para ir viver com a filha, só que nesse processo vê-se envolvido num clima de pura xenofobia em que é atacado (e a filha também).
John Malkovich protagoniza o professor e o realizador é Steve Jacobs que faz com este filme o seu segundo depois de La spagnola, mas há muito que o senhor é actor nomeadamente de televisão.

Para além dos premiados houve uma série de filmes que como é habito se apresentam no festival com vista a darem o salto quer para o circuito comercial americano (no caso dos indies) ou a darem o salto para os oscars (caso dos filmes de prestígio - segundo uma ideia que o senhor Markl promoveu faz muito tempo e da qual eu sou seguidor, sempre que esta palavra é pronunciada ou ouvida devo rir-me com uma criança da primária).
Em frases curtas mas sumarentas apresento os indies, os filmes de prest... e os filmes que poderão ser a versão de natal dos blockbusters de verão: (isto com ajuda do artigo publicado na revista do DN escrito pelo crítico Pedro Tendinha, uma vez que para alem de nunca ter ido ao Canada não vi nenhum dos filmes falados, apesar de conhecer alguns das leituras diarias dos sites e blogs de cinema americanos)
  • Me and Orson Welles, filme do realizador de antes de anoitecer que mostra a versatilidade de um ascendente realizador na vertente mais comercial (Richar Linklater). O filme decorre em 1937 com um jovem adolescente que vai participar na peça teatral Julius Cesar encenada por um jovem Orson Welles. Para quem gosta de teatro e principalmente para quem conhece bem e gosta de Welles.
  • Genova do realizador Michael Winterbottom (Mighty Heart, Road to Guantanamo) que é conhecido pela realização muito realista de câmara ao ombro, faz neste filme um melodrama com laivos de cinema de terror contando a história de uma família normal com pai, mãe e duas filhas, da qual, depois de um acidente a mãe morre, para tentar endireitar as estrutura familiar o pai e as filhas mudam-se para Genova que lhes mudará a vida (spoiler: a filha mais nova começa a ver fantasmas da mãe e a mais velha inicia a sua vida sexual). Willa Holand está soberba ao que parece.
  • Rocknrolla: para quem não se lembra de Snatch vale a pena rever ou ver pela primeira vez, porque apesar de Guy Ritchie ser o marido de Madonna, é um realizador que criou um estilo próprio caracterizado por um humor fora do vulgar, gangsters britânicos com sotaque até ao ossos e uma forma de filmar e montar mais próxima do videoclip que do cinema, mas que faz obras de puro divertimento. Rocknrolla é o demonstrar por A + B que o seu estilo foi apurado até ao ponto da cristalização. Toby Kebbell está a fazer a sua estreia e segundo Tendinha tem um 'charme' de rock-star que faz valer um filme. Também com o senhor que eu muito aprecio Tom Wilkinson.
  • The Other man é o novo filme do senhor que o ano passado nos trouxe o Notes on a scandal (Richard Eyre, que também é encenador) e com este, volta ao seio do amor como forma de maldade. Trata-se de um trianguo amoroso, do marido enganado e da mulher que ama dos dois, só que o melhor é que essa mulher não é uma qualquer, mas sim Laura Linney que ao que parece está irreprensivel.
  • Jean-François Richet cria um biopic sobre o maior inimigo público francês dos 60' e 70', Jacques Mesrine, numa forma de Thriller que ataca directamente o sistema nervosos do espectador. Intitulado L'instict de Mort ou Public Enemy Number One, com um Vicent Cassel de 5 estrelas.
  • Martyrs o filme escândalo do ano em França que foi proibido no circuito comercial pela sua violência extrema, conta a historia de duas amigas que sofreram abusos enquanto crianças e que agora procuram vingança, mas que entram num universo de violência que é um inferno vivo. Sem nunca cair numa violência gratuita, o filme fala de uma seita que tortura mulheres durante toda a sua vida. Filme de Pascal Laugier.
  • Os filmes mais comerciais (os ditos que querem dar o salto para os oscars) foram: Religulous que apesar de ser divertido chega a cansar no tom do mau gosto; Miracle at st Anna, o novo do senhor Lee que não desagrada aos fans, mas que não é a obra prima que se podia esperar, principalmente por causa de um Derek Luke um pouco molengão; The Duchess com a senhor Kiera a mostrar a sua magreza, beleza e qualidade com actriz num filme que segue a melhor tradição de filmes de costumes britânicos que dividiu os críticos; Pride and Glory mesmo tendo uma primeira parte excelente o filme perde-se e nunca chega a alcançar o primor que entendia e dava a entender; The Brothers Bloom, uma tentativa de copiar o senhor Wes Anderson, que não fica nunca mal, mas que não passa de um bom divertimento de domingo à tarde (mas com Adrien Brody, Rachel Weisz e realizado por Rian Johnson o senhor de Brick).

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