Hoje em dia as pessoas em vez de irem ao cinema ver um filme, elas vão simplesmente ao cinema, não lhes interessa o que vão ver desde que possam encher as suas matracas de pipocas; quando estas se acabam têm que se ocupar com outra coisa que não ver o filme para o qual pagaram, e isso é normalmente falar e irritar as pessoas que estão interessadas no que está a ser projectado.
Deste modo avaliar as pessoas que vão determinado filme é por si só erróneo, na medida em que uma sessão do Australia (assim como já tinha acontecido com o There will be blood), está pejada de gent(inha) mais interessada em fazer o oposto do que devia: estar calada e sentada a ver o filme.
Nesta última experiência cinematográfica de Baz, as crianças, mesmo que por pouco tempo, tiveram a indecência de usar uma mira laser e aponta-la para a tela. Gosto de imaginar que estas pessoas vão crescer, pouco que seja, mas vão-no e ao fazê-lo pode ser que consigam alcançar alguma estabilidade mental que lhes valha o respeito que costumo oferecer a todos os que conheço.
Pode dizer-se que sou papista no que diz respeito ao cinema, não mexe, não fala, não respira (daí o breath away), mas uma vez que paguei para ver um filme e escolhi a sala em que estou por ser a que considero a que coaduna a melhor relação qualidade-preço-distância de casa e desse modo gosto que a minha escolha e o meu dinheiro dêem frutos; deste modo são poucos os filmes a que vou com amigos, evitando assim os comentários incontroláveis. Só produzo som numa sala de cinema quando sou incapaz de o controlar (e não me refiro a funções corporais), mas sim, e Australia foi um caso extremo, da incapacidade de conter as emoções (já António Damásio disse que parar uma emoção é como parar um espirro) o que quer dizer, de chorar como uma viúva após a morte do seu querido marido.
As minhas idas ao cinema caracterizam-se ainda pela posição na sala pela qual costumo optar, sento-me normalmente nos lugares mais próximos do ecrã, entre a 3ª e a 5ª fila e ao centro é normalmente a posição preferida, isto não só para poder aproximar-me física e simbolicamente do filme, mas também para evitar ver o que os outros espectadores fazem durante a projecção, desta vez a minha posição não favoreceu, na medida que à saída as pessoas não podiam ausentarsse sem repararem no rapaz ali sentado chorando qual bebé recem-nascido.
No outro dia leu-se aquela curiosa história de um homem que tinha baleado um pai que estava a conversar com o seu filho aquando da visualização de The curious case of Benjamin Button, e que depois de o ter feito (tendo avisado os ditos falantes várias vezes antes) voltou a sentar-se e continuou a ver o filme até que a polícia o prendeu, o mais extraordinário é que no outro dia quando via o Bolt deu-me uma vontade imensa de fazer aquilo pelo qual o personagem de Edward Norton é preso no American History X, claro que eu sou um pacifista e estas coisas não passam de desejos facilmente controláveis pela doçura de Rhino, Mittens e Bolt .
O meu irmão dizia-me que ir ao cinema era mesmo isso: os risos, as tosses, as pipocas e também o filme; pois para mim não, cinema é cinema e um filme é um filme, por acaso entretém, mas não deve ser entretenimento (pelo menos do fácil).
P.S.: Australia, apesar de tudo o que se diz (podendo ter ou não razão), digo-vos que é tão grande filme que supera a esfera do descritível é uma experiência física, visual, emocional e absolutamente transcendente, um filme Bigger than life, com os belíssimos Hugh e Nicole, o estrondoso Baz e a perfeição de querer ser mil e um filmes e conseguir. Um filme moderno há moda antiga que glorifica o cinema e a necessidade de contar história, daquelas que ficam para sempre, tal e qual como esta ficará no meu coração.
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