O post será longo e conterá certamente SPOILERS
Terça feira passada vi O estranho caso de Benjamin Button.
Só como adenda há que acrescentar que eu como espectador de cinema habitual tenho o hábito, e o gosto, de lacrimejar em muitos filmes, sendo que sou incapaz de conter o dito fluido nos meus olhos, ou bolsas, ou onde quer que ele se acumula, isto tudo para dizer que sou um chorão.
Alguns filmes que vejo fazem me chorar compulsivamente e isto quer dizer que saiu da sala meio cambaleante sem saber bem onde estou nem para onde vou, tentando enxugar as lágrimas que me escorrem pela face. O ano passado, vários filmes tiveram este poder, basta lembrar o Into the wild (fiquei a chorar quase 20 minutos depois do filme acabar), o O meu Irmão é filho Único e Australia, só para referir alguns.
Desta vez, o The curiouse case of Benjamin Button foi mais um exemplo.
Com a moda dos intervalos é mais fácil separar os filmes em 1ª parte e 2ª, com isto quero dizer que embora numa cena ou outra da 1ª (saída de casa, encontros amorosos na Rússia, Colibri) tenha perdido alguma percentagem de água e sais minerais do meu corpo, a 2ª parte do filme foi algo extremado, e a partir do instante em que a senhora Blanchett entra em cena foi chorar a ter dizer, mais não! (no final da sessão, enquanto eu fiquei para o fim, a ver os créditos como é meu hábito, dois funcionários do cinema vieram perguntar-me se eu estava bem e se precisava de ajuda, pois ao que parece uma das senhoras que estava também a ver o filme se deve ter impressionado com a minha triste figura)
No entanto e apesar de admirar o filme profundamente, há que introduzir algo de lógico no pensamento crítico da avaliação cinematográfica - embora sabendo que as emoções são, já elas, sinal da racionalização- no entanto há que colocar prós e contras na mesma mesa e daí assumir friamente a verdade sobre nós e a nossa relação com o filme, uma vez que uma crítica é isso mesmo, algo pessoal, intransmissível e puramente subjectivo sobre como nós reagimos, neste caso a uma película projectada numa sala de cinema.
Contras:
O Argumento: Eric Roth é o senhor que escreveu para além dos argumento deste filme, o de filmes tão exímios como Munich, The Good Shepherd, Ali, The Insider, e também ele foi o escritor do argumento que lhe deu a vitória nos oscars em 1994 com o filme Forrest Gump.
Se em Gump o filme tinha um senhor num banco de jardim que em flashbacks vai contando a sua história de vida, desde criança, as paixões juvenis, passando pela guerra do Vietenam, continuando pela sua relação com o sargento e o seu negócio de pesca de camarão e por ai fora até ao momento actual em que se encontra no banco de jardim ; agora temos em Button, uma senhora velhinha deitada na cama do hospital, que conta através (de flashbacks) do diário do seu apaixonado a vida do mesmo, desde criança, passando pela guerra, do seu negocio com botões e acabando por explicar como é que acabou por vir parar até ali.
Isto para mostrar que embora Gump e Button sejam personagens muito diferentes, que Button é um filme mais consciente e mais consistente, tem que se admitir que o argumento é o esqueleto de Gump só que com uma roupa mais bonita.
Para referir ainda que Roth induz um argumento manipulador (como qualquer melo-drama que se preze) que joga em clichés constantes.
Os efeitos especiais: Antes que alguém me caia em cima e me chame o que quer que seja, por colocar 'Efeitos especiais' na categoria dos 'Contras', tenho que afirmar que, se continuarem a ler, voltarão a encontrar este tópico na categoria dos 'Prós', mas até lá, esperem um pouco.
Para mim, não há nada que substitua um actor e se o futuro dos filmes é ter um homenzinho com um carapuço enfiado na cabeça, que não fala e depois adicionamos a cabeça deformada do nosso actor e a voz, de tal forma que parece tudo muito real, então eu prefiro virar-me para os clássicos e esquecer que vivo na idade moderna.
Por muito bons que sejam os efeitos especiais e por melhor que estes estejam integrados num filme de respeito, é impossivel acharmos que o corpo e toda a fisicalidade de um actor são desnecessários para a credibilidade das cenas. É certamente dificil contracenar com um homem de capuz azul como se ele fosse o Brad Pitt, basta lembrar filmes com Sin City, 300 e Sky Captain que eram todos demasiado teatrais, uma vez que é complicado para um actor reagir ao que não vê ou sente.
Assim é compreensível que a primeira parte do filme, enquanto Button anda de cadeira de rodas ou de muletas, que muito daquilo pareça demasiado burlesco e quase circense.
Prós:
Cate Blanchett: Esta senhora, quando há uns mese eu fiz um Top 10 das melhores actrizes no meu ver, ela ficou em 2º lugar (só ultrapassada pela minha adorada Nicole Kidman, com ou sem Botox eu adoro-a), e neste filme ela é a alma de cada cena, a pujança, a beleza plástica do corpo e da vida tudo concentrado numa só personagem de nome Daisy, que contrai e atraia qual buraco negro tudo para si, incluindo a luz. E verdade seja dita, apesar de Blanchett estar simplesmente perfeita, Pitt não lhe fica muito atrás e aquele período do filme entre eles fugirem de barco até ela engravidar há qualquer coisa de perfeito, eu diria até divino naquele par, sendo que Pitt mostra por A + B porque razão é um sex symbol.
David Fincher: Continuando naquela onda do tópico anterior há que admitir que com um argumento tão florzinha de estufa, se não fosse Fincher, o filme saia completamente ao lado, ele está lá em cada momento mais auspicioso do melo-drama, que se quer inchado e comovente, ele está lá em cada momento memorável, como as conversas com Tilda Swinton, o atropelamento, as cenas da viajem ou da vida conjugal, o regresso adolescente, entre tantos outros momentos perfeitos.
Com este filme Fincher filma o melo-drama à moda antiga como se nunca antes tivesse havido cinema.
Os efeitos Especiais: sem os quais este filme seria impossível de ser feito com sentido e de forma inteligente, apesar do que foi dito anteriormente
Claudio Miranda: que faz deste filme das obras em película mais belas e mais atrevidas, como se pode ver por cada imagem que este post tem, e é possivelmente por aqui que o filme se distancia da vulgaridade de Gump ou de semelhantes, pela beleza de cada plano, e pelo gosto do esteticamente avassalador, pelo calor e sensibilidade de cada momento; foi nomeado para os Oscars pelo seu trabalho neste filme.
O Argumento:Apesar de tudo o que disse, e de tudo ser verdade, pelo menos a meu ver, há que admitir que é também, o argumento que mesmo pelo pior caminho, leva este filme ás mais memoráveis cenas, pode dizer-se que é como um agente de viagens: a passagem de avião pode ser péssima e os transfers piores, mas se o destino for bom, não nos podemos queixar.
Tenho que admirar a inteligência de colocar como pano de fundo a história da América do século XX e tenho que admirar a subtileza com que o caso de New Orleans foi abordado, assim como a história do relojoeiro.
Em Suma:
Antes de mais escrita, peço que leiam a crítica ao filme do senhor Luis Mendonça, o blogger do Cinédrio, que apesar de não concordar absolutamente, tem uma opinião próxima e um melhor uso da palavra:
10/10 - controversamente amado
Só como adenda há que acrescentar que eu como espectador de cinema habitual tenho o hábito, e o gosto, de lacrimejar em muitos filmes, sendo que sou incapaz de conter o dito fluido nos meus olhos, ou bolsas, ou onde quer que ele se acumula, isto tudo para dizer que sou um chorão.
Alguns filmes que vejo fazem me chorar compulsivamente e isto quer dizer que saiu da sala meio cambaleante sem saber bem onde estou nem para onde vou, tentando enxugar as lágrimas que me escorrem pela face. O ano passado, vários filmes tiveram este poder, basta lembrar o Into the wild (fiquei a chorar quase 20 minutos depois do filme acabar), o O meu Irmão é filho Único e Australia, só para referir alguns.
Desta vez, o The curiouse case of Benjamin Button foi mais um exemplo.
Com a moda dos intervalos é mais fácil separar os filmes em 1ª parte e 2ª, com isto quero dizer que embora numa cena ou outra da 1ª (saída de casa, encontros amorosos na Rússia, Colibri) tenha perdido alguma percentagem de água e sais minerais do meu corpo, a 2ª parte do filme foi algo extremado, e a partir do instante em que a senhora Blanchett entra em cena foi chorar a ter dizer, mais não! (no final da sessão, enquanto eu fiquei para o fim, a ver os créditos como é meu hábito, dois funcionários do cinema vieram perguntar-me se eu estava bem e se precisava de ajuda, pois ao que parece uma das senhoras que estava também a ver o filme se deve ter impressionado com a minha triste figura)
No entanto e apesar de admirar o filme profundamente, há que introduzir algo de lógico no pensamento crítico da avaliação cinematográfica - embora sabendo que as emoções são, já elas, sinal da racionalização- no entanto há que colocar prós e contras na mesma mesa e daí assumir friamente a verdade sobre nós e a nossa relação com o filme, uma vez que uma crítica é isso mesmo, algo pessoal, intransmissível e puramente subjectivo sobre como nós reagimos, neste caso a uma película projectada numa sala de cinema.
Contras:
O Argumento: Eric Roth é o senhor que escreveu para além dos argumento deste filme, o de filmes tão exímios como Munich, The Good Shepherd, Ali, The Insider, e também ele foi o escritor do argumento que lhe deu a vitória nos oscars em 1994 com o filme Forrest Gump.
Se em Gump o filme tinha um senhor num banco de jardim que em flashbacks vai contando a sua história de vida, desde criança, as paixões juvenis, passando pela guerra do Vietenam, continuando pela sua relação com o sargento e o seu negócio de pesca de camarão e por ai fora até ao momento actual em que se encontra no banco de jardim ; agora temos em Button, uma senhora velhinha deitada na cama do hospital, que conta através (de flashbacks) do diário do seu apaixonado a vida do mesmo, desde criança, passando pela guerra, do seu negocio com botões e acabando por explicar como é que acabou por vir parar até ali.
Isto para mostrar que embora Gump e Button sejam personagens muito diferentes, que Button é um filme mais consciente e mais consistente, tem que se admitir que o argumento é o esqueleto de Gump só que com uma roupa mais bonita.
Para referir ainda que Roth induz um argumento manipulador (como qualquer melo-drama que se preze) que joga em clichés constantes.
Os efeitos especiais: Antes que alguém me caia em cima e me chame o que quer que seja, por colocar 'Efeitos especiais' na categoria dos 'Contras', tenho que afirmar que, se continuarem a ler, voltarão a encontrar este tópico na categoria dos 'Prós', mas até lá, esperem um pouco.
Para mim, não há nada que substitua um actor e se o futuro dos filmes é ter um homenzinho com um carapuço enfiado na cabeça, que não fala e depois adicionamos a cabeça deformada do nosso actor e a voz, de tal forma que parece tudo muito real, então eu prefiro virar-me para os clássicos e esquecer que vivo na idade moderna.
Por muito bons que sejam os efeitos especiais e por melhor que estes estejam integrados num filme de respeito, é impossivel acharmos que o corpo e toda a fisicalidade de um actor são desnecessários para a credibilidade das cenas. É certamente dificil contracenar com um homem de capuz azul como se ele fosse o Brad Pitt, basta lembrar filmes com Sin City, 300 e Sky Captain que eram todos demasiado teatrais, uma vez que é complicado para um actor reagir ao que não vê ou sente.
Assim é compreensível que a primeira parte do filme, enquanto Button anda de cadeira de rodas ou de muletas, que muito daquilo pareça demasiado burlesco e quase circense.
Prós:
Cate Blanchett: Esta senhora, quando há uns mese eu fiz um Top 10 das melhores actrizes no meu ver, ela ficou em 2º lugar (só ultrapassada pela minha adorada Nicole Kidman, com ou sem Botox eu adoro-a), e neste filme ela é a alma de cada cena, a pujança, a beleza plástica do corpo e da vida tudo concentrado numa só personagem de nome Daisy, que contrai e atraia qual buraco negro tudo para si, incluindo a luz. E verdade seja dita, apesar de Blanchett estar simplesmente perfeita, Pitt não lhe fica muito atrás e aquele período do filme entre eles fugirem de barco até ela engravidar há qualquer coisa de perfeito, eu diria até divino naquele par, sendo que Pitt mostra por A + B porque razão é um sex symbol.
David Fincher: Continuando naquela onda do tópico anterior há que admitir que com um argumento tão florzinha de estufa, se não fosse Fincher, o filme saia completamente ao lado, ele está lá em cada momento mais auspicioso do melo-drama, que se quer inchado e comovente, ele está lá em cada momento memorável, como as conversas com Tilda Swinton, o atropelamento, as cenas da viajem ou da vida conjugal, o regresso adolescente, entre tantos outros momentos perfeitos.
Com este filme Fincher filma o melo-drama à moda antiga como se nunca antes tivesse havido cinema.
Os efeitos Especiais: sem os quais este filme seria impossível de ser feito com sentido e de forma inteligente, apesar do que foi dito anteriormente
Claudio Miranda: que faz deste filme das obras em película mais belas e mais atrevidas, como se pode ver por cada imagem que este post tem, e é possivelmente por aqui que o filme se distancia da vulgaridade de Gump ou de semelhantes, pela beleza de cada plano, e pelo gosto do esteticamente avassalador, pelo calor e sensibilidade de cada momento; foi nomeado para os Oscars pelo seu trabalho neste filme.
O Argumento:Apesar de tudo o que disse, e de tudo ser verdade, pelo menos a meu ver, há que admitir que é também, o argumento que mesmo pelo pior caminho, leva este filme ás mais memoráveis cenas, pode dizer-se que é como um agente de viagens: a passagem de avião pode ser péssima e os transfers piores, mas se o destino for bom, não nos podemos queixar.
Tenho que admirar a inteligência de colocar como pano de fundo a história da América do século XX e tenho que admirar a subtileza com que o caso de New Orleans foi abordado, assim como a história do relojoeiro.
Em Suma:
Antes de mais escrita, peço que leiam a crítica ao filme do senhor Luis Mendonça, o blogger do Cinédrio, que apesar de não concordar absolutamente, tem uma opinião próxima e um melhor uso da palavra:
Claro que este filme podia ser uma experiência de cinema mais completa, e até ousada, se apostasse numa radicalização das suas duas partes: se mandasse o "Forrest Gump" para as urtigas e imprimisse realismo na infância de Benjamin - lhe desse dureza em vez de rosas (se se ouvisse "My Body is a Cage" e não a insossa banda sonora de Alexandre Desplat) - e deixasse a segunda parte próxima de como está: uma estupidamente arrebatadora história de amor, sem limites no seu estonteante idealismo.Se a primeira parte do filme é de facto burlesca e romanesca toda a segunda compensa, isto para dizer que o coração perdoa e ainda para mais os defeitos do filme não são mais que piquinhices de pessoas que tem pouco que fazer, para além de encontrar defeitos nos trabalhos dos outros, culpo-me por ser estúpido e profiro para quem quiser ler, que apesar da minha racionalidade inconveniente eu amo este filme como é raro fazer, apesar de imperfeito.
10/10 - controversamente amado
1 comentário:
É um grande filme... Um dos melhores deste ano, senão o melhor mesmo. Também chorei :)
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