4.16.2009
Isto é só uma opinião
Antes de dizer o que quer que seja, aconselho lerem este post do blog In a Lonely Place, apesar de não reflectir na totalidade a minha opinião aproxima-se até certo ponto, pelo menos na utilização da palavra 'seca' (leia-se chato, cansativo e não ressequido e desidratado) como descritiva do filme em questão.
Na altura da estreia de Honra de Cavalaria dirigi-me ao cinema com grandes expectativas, derivadas maioritariamente de uma muito boa recepção do filme por parte da crítica. Vi o filme numa tarde de verão. Achei que era das coisas mais insuportáveis que alguma vez me tinham passado pelos olhos. Agora aprecio bastante o filme e sou capaz de o recomendar a algum amigo, mas que se esclareça uma coisa: há que saber ao que se vai! Quando vi o filme esperava algo completamente diferente, nunca me passou pela cabeça, que fosse possível fazer cinema daquela forma, ausente de qualquer noção do story-telling; ausente de história; sem nada para contar. Um filme onde nada se passa era para mim uma novidade, muito chata, mas curiosa.
Desta vez quando fui ver O Canto dos Pássaros já conhecia o realizador e o seu estilo, já sabia ao que ia, mas no entanto a memória prega destas partidas e queria-me parecer que Honra de Cavalaria não tinha sido assim tão monótono, ver este filme recordou-me. Em certos momentos tive que fechar os olhos durante os quinze segundos, para ver se aguentava mais uma meia hora com alguma atenção.
Verdade seja dita: ambos os filmes são uma autentica seca.
Verdade seja dita: ambos os filmes são experiências cinemáticas revolucionarias e inspiradoras.
Os enquadramentos de Albert Serra são de uma minúcia tal, que tudo o resto parece ser simplesmente acessório, a sua noção de beleza visual é transcendente. Se Deus existir e fizesse um filme, acredito que seria uma coisa muito próxima deste Canto dos Pássaros.
Há uma proximidade nunca antes vista para com a Natureza, uma sensibilidade pelo meio envolvente e uma noção de cinema nunca antes conhecida.
Serra tem um gosto especial pela humanização, se é possível associar aos seus filmes qualquer tipo de emoção; sente-se que há um gosto por trabalhar os mitos, primeiro foi Dom Quixote e o seu súbdito, agora são os 3 Reis Magos e Jesus, todas estas figuras estão alicerçadas numa cultura ocidental comum a todos os indivíduos e Serra brinca com isso, parte do pressuposto (correcto) de que todos conhecemos as histórias, como mais ou menos precisão, e então filma o que teria acontecido entre os capítulos, entre os episódios, mostra as partes chatas da vida (como lhes chamava Hitchcock) mostra um bando de homens bem vestidos a passearem-se pelos desertos, meio perdidos, mostra-os como seres humanos, frágeis, e não como as figuras mitológicas em que se transformaram.
É meu crer que estas experiências estilísticas de Serra já não são cinema, são outro coisa, mais metafórica e poética, menos popular - como todo o cinema devia ser.
Mas isto é só uma opinião.
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