Já há alguns meses, aquando da vitória de Obama nas eleições presidenciais americanas, fiz uma 'dissertação' (se assim se lhe podia chamar) sobre a influência, quem sabe tenaz, das imagens como veículo de alteração de mentalidades; através da habituação a uma série como 24, com mais de 6 temporadas na altura, e com a divulgação de uma presidente, tão carismático como era o personagem, para o grande público: teve certamente uma influência decisiva na aceitação do que há alguns anos era o impensável - ou por outro lado, e actualizando a questão, podemos imaginar um presidente, ou 'presidenta' homossexual na casa branca? eu acho que não, pelo menos não na próxima década, lá para 2020 a gente fala.
Iniciando aquilo que me dirigiu a este espaço, há uns bons largos dias, os G20 reuniram-se em Londres: muita pompa, muita circunstância e muitos manifestantes.
Noticia noticiada é coisa passada seria o proverbio que inventaria para argumentar que já estou fora do tempo, mas adiante.
Entre os confrontos entre a policia e os manifestantes, entre presos e feridos houve "somente" um morto, que a polícia na altura alegou não estar relacionado com os casos. Passados uns dias, o Guardian publicou um video de um empresário americano onde se mostrava o individuo -agora morto- a passar frente à coluna policial, sendo empurrado quando se tinha virado de costas para a policia e caindo no chão, batendo com a cabeça no passeio, acidente de que veio a morrer. O homem em questão trabalhava nas redondezas e regressava a casa depois de ter trabalhado na venda de jornais durante todo o dia de protestos, não era portanto um perigo e não houve então qualquer motivo para o derrube.
Curioso é agora que depois da noticia ser descoberta, outra fonte de informação audiovisual surgiu, de onde se vê o acontecimento de um diferente ângulo.
Mais curioso ainda seria, se não fosse tão mórbido, que depois da noticia, iniciou-se um processo de avaliação da situação que já penalizou de alguma forma um dos policias envolvidos e continuando numa onda de curiosidade mórbida que o acontecimento trágico segrega, pois então que comece: o poder das imagens é poderosíssimo (pleonasmos à parte), se não fosse a documentação vídeo de um transeunte, a causa da morte de um homem pacato nunca teria sido esclarecida, a imagem deu dignidade à morte (se isso é possível no caso) do dito senhor; por outro lado é também a imagem que retira a dignidade tantas vezes em casos mais do que óbvios nas revistas cor-de-rosa.
Então a imagem é um malévolo Deus de bondade? Uma figura que tanto tem de bom como de mau?
A imagem não tem qualquer qualidade, a sua utilização é que insere na dita uma quantidade infinita de emoções e características específicas da racionalidade (sé essa palavra não é heresia) humana, o manuseamento da imagem é que a torna dignificante ou não.
Num mundo em que a difusão das novas tecnologias é crescente e quase total (em Portugal existem mais telemóveis que pessoas) a captação de imagens é crescente e no futuro, quem sabe, passaremos a ter zonas smoke free assim como image free, quem sabe? tudo depende de quem e como se manuseiam as imagens.
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