Recapitulando a obra do irónico realizador polaco, o título reporta a uma rua, onde mansões imensas se ordenam em fila nas suas laterais e num destes palácios vive a anciânica estrela do cinema mudo: Norma Desmond (Gloria Swanson, que curiosamente na altura passava por uma muito má fase da sua vida, sendo este o filme que a projectou de novo para a ribalta, assim como ansiava a sua personagem). A par disto temos um narrador ácido corrosivo que é argumentista numa cidade que corta as esperanças de qualquer um (Los Angels) e num período difícil, fugindo aos homens de fraque do banco esconde-se acidentalmente na casa de dita diva. Daqui cresce um sub-plot de paixoneta com uma doce rapariga e uma relação insana entre a velha gárgula e o moço fútil que se deixa levar pelos facilitismo que a riqueza da dita senhora lhe proporcionam. Tudo começa com um homem morto numa piscina todo o filme pretende explicar como é que se chegou àquela situação.
No fundo o filme é uma perspicaz crítica a uma industria que usa-e-deita-fora as suas estrelas e que são os amigos dos amigos, as cunhas dos conhecidos e os interesses que levam ou não ao sucesso.
Quanto a Mulholland dr. pouco se pode dizer, não esqueçamos que se trata de um filme de Lynch o que, por norma, é sinónimo de inclassificável, indescritível, irrepetivel e mais uma série de palavras começadas por 'i'; podem no entanto consultar a sinopse do IMDB que está especialmente completa.
Agora vejamos:
- Os dois filmes tem como título o nome de uma rua de L.A.
- Ambos mostram a porta da Paramount.
- Ambos os filmes começam com um acidente donde resultam mortos: Sunset Blvd começa com a morte do nosso personagem principal, e o Mullholand dr. começa com um estrondoso acidente em que só sobrevive a nossa personagem principal.
- Ambos acidentalmente aparecem em casas que desconhecem e são bem recebidos pelos seus habitantes, em ambos os casos actrizes pelas quais se vão relacionar amorosamente.
- Ambos os filmes criticam o sistema Hollywoodiano das produtoras, Wilder mostrando a hipocrisia e futilidade, Lynch através de uma personagem como que cabecilha que controla tudo como se de um mafioso se tratasse e ainda associando aos directores das produtoras americanas uma dose de insanidade aceitável - cena do café.
- Nos dois temos um personagem secundário que é um realizador famoso (De Mille fazendo de si mesmo e Justin Theroux fazendo de Adam) que são tentados a colocarem actores que não querem em determinados papeis ou a fazer filmes que não querem.
2 comentários:
É sem dúvida uma comparação ousada, sobretudo tendo em conta os estilos cinematográficos de ambos os realizadores.
Ainda assim, é uma comparação interessante que reflecte boas ideias. Para mim, Sunset Boulevard é uma obra mais que perfeita. Mulholland Dr. não é, quanto a mim, perfeito, muito por culpa de toda a aura enigmática envolta nos filmes de Lynch tornando todo o processo de compreensão e crítica social mais abstracto. São duas obras diferentes mas, como tu dizes, unidas pela sétima arte em um sentido bem mais vasto do que simplesmente literal.
Mas uma coisa é certa, se Lynch se inspirou em Wilder, acabou de subir na minha consideração. E muito...
Abraço
Wilder é para mim um dos grandes do cinema clássico americano e filmes como Sunset Blvd. e The apartment têm esta perícia de através de uma paixoneta entre uma bela mulher e um senhor invulgar transmitirem as mais perfeitas críticas sociais que alguma vez o cinema americano conseguiu criar. Wilder era verdadeiramente um criador de filmes do meio, para o grande público e para os mais exigentes críticos.
Lynch é um caso completamente diferente, para mim ele não se interessa pela narrativa, nas suas obras mais recentes, ou melhor dizendo: a narrativa para ele é abstracta e é isso que me atrai tanto.
independentemente dos estilos, são dois génios, cada um à sua maneira.
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