7.09.2009

O Helicóptero


Há uma força iconográfica e portanto simbólica, na figura de um helicóptero, sendo que no cinema isso é mais do que visível: todos se lembram na perfeição da cena inicial de Apocalipse Now em que os ditos meios de transporte eram o primeiro sinal da demência provocada pela luta armada (especificamente no Vietname) que o filme tão bem explorou; por outro lado sempre se associaram estes objectos voadores a grandes cenas de acção como nos lembraria Die Hard ou grande parte dos filmes de domingo à tarde.
O que vos venho escrever hoje nada tem que ver com filme de pipocas nem mesmo sobre a insanidade que se associa a qualquer guerra, venho sim escrever-vos sobre o muitíssimo competente thriller-político-jornalistico, State of Play.
State of play, como muito bem nos informou o crítico João Lopes é um regresso ao certo cinema liberal americano que vem recuperado os tempos áureos dos anos 70 (Syriana, Michael Clayton) nomeadamente do dito 'filme de jornalistas' dos quais Deadline USA é uma referência certa.
Mas mais do que isso, o realizador Kevin MacDonald tem a mestria suficiente, para em certos momentos, criar um ambiente icónico pessoal e profundamente inspiradores. Mesmo que se perca por vezes nos formatos já adquiridos e numa direcção pouco mais que escorreita, o filme tem momentos de pura criatividade. É então que o dito Helicóptero surge (ver imagens).

O Helicóptero é uma figura constante durante todo o tempo da película, quer por aparições ao longe, quer como real meio de transporte para algum personagem, quer simplesmente como pillow-shot (uma delas, a imagem em que se vê um helicóptero sobre uma bandeira, ou outra em que se vê o seu reflexo nas janelas de um edifício de escritórios -não consegui publicar- são de uma enorme força simbólica) ou ainda como efeito sonoro.
As aparições indicam-nos numa direcção de pensamento: por uma lado temos a figura opressora do dito transporte bélico criando uma ambiente claustrofóbico (também pelo seu som ensurdecedor) na moderna Washington, quer por outro lado a criação de uma mensagem marcadamente política em que se mostra a industria bélica americana como propulsara da corrupção e do crime estendendo os seus tentáculos ao governo (o helicóptero sobre a própria bandeira dos EUA) de forma dissimulada, através de empresas fantasma (o dito reflexo do helicóptero no edifício de negócios o qual não consegui publicar), conspiração sobre a qual se desenvolve a narrativa.

Assim sendo convém não encarar este filme com tanta leviandade como tem acontecido (vendo-o como mais um sub-produto de uma industria sem ideias); verdadeiramente é um caso cada vez mais raro de criatividade na produção mainstream americana.

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