10.25.2009

Dar as Mãos é Entrelaçar os Dedos

Miyazaki é um senhor que me faz confusão! porque de todos os filmes que dele vi (Totoro, Mononoke, Chihiro, Howl e Ponyo), nunca conseguiu fazer mal, nem se quer cambalear um bocadinho ou desequilibrar-se para o mau gosto.
É sempre de um primor técnico arrepiante (mas profundamente crente na narrativa em detrimento do perfeccionismo técnico - anti-3D), de uma singularidade autoral (em que qualquer segundo de um filme seu é instantaneamente reconhecível), de uma candura poética e de uma eterna infantilização, muito consciente da vida adulta (basta lembrar que todos os seus filmes são sobre a família e as suas atribulações naturais - e sobrenaturais).
É incrível como um filme consegue ser compreendido por uma criança de 4 anos, e ter pelo meio a questão ambiental, as relações humanas e as famílias em convulsão e ainda uma belíssima história de amor, tocar a questão da velhice, ter cenas mais emocionantes que muitos filmes ditos de acção e até certo ponto usar as metamorfoses de Ponyo como metáfora para a adolescência. Momentos ficarão para a história como irrepetíveis, a discussão conjugal em Morse é das peças mais subversivas (subversivo também é o plano dos peixes a circularem na estrada), ou a candura que está nos primeiros momentos de Ponyo em terra, em especial quando prova o chá com mel.
Mas é a consciência humana, a singularidade intrínseca de cada personagem que constrói este filme; são as relações humanas: representadas por três planos em que se dão as mãos, um primeiro em que Sosuke segura a mão de Ponyo como sinal de segurança, um segundo em que a mãe segura a mão da Deusa em sinal de gratidão, ou ainda quando o pai de Ponyo dá um belo 'passou-bem' a Sosuke como sinal de esperança. Três momentos, grandes planos das mãos entrelaçadas, sinal de Humanidade e de Paz.

P.S.:Continua-me a fazer impressão como é que um ser humano pode alcançar tal nível de perfeição artística e humana.

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