10.31.2009

A Potent and Lethal Addiction

Perspectivando os filmes de Bigelow, temos entre muitas outras temáticas - a testosterona que é basilar em todos os seus personagens principais, e a adrenalina que compõem algumas das mais extraordinárias cenas de acção da história do cinema; mas há um cerne ideológico: o cinema de Bigelow é fundamentalmente masculinizado, há uma noção transversal de companheirismo (sendo que se torna paradoxal que uma mulher tenha no seu cinema estas características que faltam a tantos outros homens-realizadores). Tomando os filmes que dela vi, tenho: Near Dark, Strange Days, Point Break, K-19 e agora The Hurt Locker; é directa a relação que se pode estabelecer entre os ditos, em todos se criam situações de internalizações de indivíduos em grupos muito fechados: no primeiro temos um recém tornado vampiro que tenta mostrar aos parceiros que é capaz de cumprir as regras do clã, depois temos um filme sobre as margens de uma sociedade, renegadas pelo preconceito, no terceiro temos um gangue de surfistas e a recepção de um novo membro, em K-19 temos um novo capitão a comandar um submarino, fazendo por merecer os respeito dos seus homens e agora também um novo sargento que se tem de integrar numa brigada anti-minas.
Bigelow é a primeira a dizer que não existem filmes sem consciência, que o entertenimento desmiolado não é cinema; para ela, se um filme não tem algo mais que explosões (e os dela costumam ter algumas) então nem valem a pena; e justiça seja feita:Bigelow, em todos os seus filmes, melhor ou pior, criou uma noção muito particular e simultâneamente única e universal da humanidade, em todas as suas singularidades, sem que com isso deixasse de fazer cinema de género, verdadeiramente inteligente e profundamente humanista.
Quanto a The Hurt Locker, é certamente um dos filmes de guerra mais brilhantes, sem qualquer pinga de ideologia política ou maneirismo de esquerda ou direita; um filme que se basta a sim mesmo pelos seus personagens e pela história que tem a contar (sem morais, conselhos, dicas ou denúncias). Mais uma vez surge o paradoxo, pois é com um filme como este, sem piscadelas a quadrantes nenhuns, que se prega o pacifismo mais puro e utópico. Porque, percebamos uma coisa, a Guerra, segundo este filme, é uma doença (mental).
Há uma cena, já no fim que concentra toda a americanidade, num plano: quando o sargento regressa aos States, qual é o primeiro lugar onde o encontramos? um super-mercado (claro está), símbolo maior da decadência ocidental e até certo ponto, peça explicativa na compreensão psicológica da dependência à acção, coisa mortiça no marasmo do quotidiano.
Os senhores do Público diziam que este é um filme com músculo, eu concordo, mas acrescentaria: este é um filme do caralho.

P.S.: Tenho só a acrescentar que Stange Days é um dos filmes mais subvalorizados da história do cinema, de uma acutilância social, sumo perversor dos géneros em que se constroi.

1 comentário:

Sam disse...

Para mim, o melhor filme do ano até ao momento. E merece lugar no top 10 dos melhores títulos de guerra da história do Cinema (sinceramente, exageros à parte!)

Cumps. cinéfilos.