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Bigelow é a primeira a dizer que não existem filmes sem consciência, que o entertenimento desmiolado não é cinema; para ela, se um filme não tem algo mais que explosões (e os dela costumam ter algumas) então nem valem a pena; e justiça seja feita:Bigelow, em todos os seus filmes, melhor ou pior, criou uma noção muito particular e simultâneamente única e universal da humanidade, em todas as suas singularidades, sem que com isso deixasse de fazer cinema de género, verdadeiramente inteligente e profundamente humanista.
Quanto a The Hurt Locker, é certamente um dos filmes de guerra mais brilhantes, sem qualquer pinga de ideologia política ou maneirismo de esquerda ou direita; um filme que se basta a sim mesmo pelos seus personagens e pela história que tem a contar (sem morais, conselhos, dicas ou denúncias). Mais uma vez surge o paradoxo, pois é com um filme como este, sem piscadelas a quadrantes nenhuns, que se prega o pacifismo mais puro e utópico. Porque, percebamos uma coisa, a Guerra, segundo este filme, é uma doença (mental).
Há uma cena, já no fim que concentra toda a americanidade, num plano: quando o sargento regressa aos States, qual é o primeiro lugar onde o encontramos? um super-mercado (claro está), símbolo maior da decadência ocidental e até certo ponto, peça explicativa na compreensão psicológica da dependência à acção, coisa mortiça no marasmo do quotidiano.
Os senhores do Público diziam que este é um filme com músculo, eu concordo, mas acrescentaria: este é um filme do caralho.
P.S.: Tenho só a acrescentar que Stange Days é um dos filmes mais subvalorizados da história do cinema, de uma acutilância social, sumo perversor dos géneros em que se constroi.
1 comentário:
Para mim, o melhor filme do ano até ao momento. E merece lugar no top 10 dos melhores títulos de guerra da história do Cinema (sinceramente, exageros à parte!)
Cumps. cinéfilos.
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