10.17.2009
Two Expressos in Separate Cups
O que é que Jarmush faz com Limits of Control? não conta uma história, mas por outro lado também não pinta um quadro (e não é por acaso a comparação deste filme à pintura, quer pelo sentido literal -Museu Rainha Sofia e a fotografia de Christopher Doyle-, quer metafórico).
A ideia de Puzzle é provavelmente a melhor: cria uma situação, um episódio, para cada momento, que leva à progressão lenta do filme; depois junta os momentos e fá-lo de modo a que encaixem com certos rituais e (auto)referências, para depois, no final, termos um monte de peças: soltas na memória, mas juntas pelo limbo da sala escura. Uma personagem diz a certa altura The best films are like dreams you're never really sure you had; e tal qual como nos sonhos, neste filme é difícil recordar tudo e de forma linear.
Limits of Control é como um sonho e por isso deixa de ser cinema para passar a ser arte (conceptual) filmada - o que não é por si uma coisa má.
De poema visual passa a dedicatória ao cinema (se quisermos ser restritivos - ao filme de gangsters) e isso é expresso pela cristalização de rituais, pela metodização dos comportamentos e das estruturas narrativas do filme: os sucessivos pedidos de café, a sessões de Yoga, os vários encontros com as respectivas conversas, as idas ao museu e as caixas de fósforos, as mudanças de roupa e as viagens; tudo repetido à exaustão, como se se pretendesse alcançar a perfeição, transformando hábitos em rituais, tornando cinemático o corriqueiro.
Mas no fim, fica-nos uma ideia de solidão indesejada, fica-se perdido - à deriva -, porque de facto, esta maneira da fazer cinema está perdida (quase só Jarmush se mantém como salvador da espécie) pela sua natureza contemplativa e inumana (Bankolé é literalmente esfíngico). Mais do que uma dedicatória, este filme parece ser um testamento ao cinema independente (se formos pessimistas), ou por outro lado um tratado metafórico sobre a revolta contra o blockbuster, exprimida literalmente pelo assassinato final - porque alguem se atreveu a jogar no centro e esquecer as arestas (o universo não tem centro nem arestas).
Existem Limites para o controlo da grandes produções cinematográficas? Jarmush crê que sim e (segundo ele) isso passa pela revolta do cinema independente (deixar de ser um produto da Fox Searchlight e voltar a ter o peso da contra-cultura, do culto, da reverência estética).
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