Da esquerda para a direita: Chantrapas de Iosseliani, Film Socialisme de JLG e Potiche do Ozon
Não será completamente errado dizer que um filme europeu (e os franceses não são excepção) têm um público tendencialmente mais reduzido que um filme em língua inglesa (note-se que não é a qualidade que aqui oponho, mas sim o público potencial ). Desta forma qual será a lógica macabra que rege as nossas distribuidoras? Se o público é pouco, porque será que Chantrapas, Hors la loi e Jouese tenham estreado os três na segunda semana de Janeiro e nas últimas duas semanas tenham estreado Film Socialism, Deux de la vague, Copacabana, Micmacs, Potiche e Adèle Blanc-Sec. Em vez de tratarem os filmes como obras singulares, tratam a cultura francófona como fardo (barril, palete ...), em vez de programarem, publicitarem e exibirem os filmes por si, apresentam uma enchente de títulos, em vagas (mais ou menos) sufocantes impedindo que os espectadores vejam todos os títulos (sendo que a estreia em cascata não promove o passa-palavra impedindo que certos títulos ganhem público com o tempo).
Mais escandaloso é que neste mês estejam previstas 39 estreias, o mesmo número de títulos que estreou em Janeiro e Fevereiro (segundo o cinema.sapo.pt). Desta forma, filmes como Adèle Blanc-Sec, Splice e The Tempest estrearam, para na segunda semana de exibição estarem apenas com horário nocturno e desaparecem antes da terceira.
O precipício que as distribuidoras parecem adorar é simultaneamente dramático e risível: por um lado estreiam filmes como se descarregassem pacotes de leite, fazendo com que os espectadores não vejam os filmes exibidos (ou nem sequer tenham sabido da sua exibição) e por outro lado acham que isto é a estratégia que lhe dará mais lucro. São incapazes de compreender que este esquema é prejudicial para si e para a (criação/manutenção) do público. Os profissionais dizem-nos que é a ressaca pós-oscars, mas para isso existe o Guronsan e sumo de limão.
3 comentários:
A distribuição de cinema em Portugal é completamente esquizofrénica. É que nem sequer conseguem formar públicos para um cinema mais comercial e outro nem tanto. Já para não falar que praticamente só se preocupam em estrear (quando estreiam) em Lisboa. Parece que o resto do país não existe. E antes ainda haviam cinemas onde nós sabíamos que passava um determinado tipo de cinema. Hoje isso não existe. Felizmente que estou em Lisboa e tenho a Cinemateca, se não fosse isso, estava tramado, pois também convenhamos que o que tem estreado nos últimos tempos deixa muito a desejar.
Cumprimentos e parabéns pelo excelente post.
A distribuição cinematográfica agoniza um pouco por todo o mundo. Em Portugal acresce o facto de agora pulularem entre a Lusomundo e a Atalanta outras pequenas distribuidoras cada uma a puxar para o seu lado, a dar os primeiros passos. Impossível visão de conjunto, de trabalho com continuidade. Um salve-se quem puder e lá no meio parece que há uns seres bizarros chamados espectadores... Abraço.
Muito obrigado aos dois, só posso acrescentar que é cada vez mais difícil manter-mo-nos interessados no que se exibe em portugal: porque quando temos tempo para ver, já não está para ser visto e quando queremos ver, não estreia comercialmente.
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