The Tree of Life é um filme (de) gigante. Coisa tão brutal que qualquer um que a veja só se poderá sentir insignificante. A enormidade do filme é tal que não podemos terminar uma visualização sem pôr em causa a terrena natureza de Malick. Com vista a reduzir esta sensação de pequenez, proponho-me a fazer uma análise da 'gramática visual' do filme, esperando que no fim desse processo (de expiação?), talvez (muito talvez), me consiga recompor dessa experiência.
Toda a composição da imagem, em Malick, é um caso de paganismo (e panteísmo). A esse respeito temos dezenas de casos ao longo deste filme, mas note-se que não há apenas um acumular de símbolos ocos, há sim uma ordem, uma espécie de organização em elementos:
Terra (entenda-se o solo) - elemento fundador; veja-se a origem da vida como resultado dos tumultos vulcânicos. E repare-se a forma como se acompanha o crescimento da árvore que é plantada no início da narrativa, aquela árvore suporta toda a família, cresce com os seus elementos e protege-os; é um pilar de todo aquele sistema relacional, é calma, é segurança, é sombra.
Fogo/Luz - elemento juvenil; os miúdos do bairro brincam nas ruas do bairro suburbano e ateiam um fogo ao lixo, é coisa de brincadeira, é uma prova de masculinidade (assim como a janela partida), mas também é prova de coragem o tocar na ficha elétrica (a luz...), ou o colocar o dedo na boca da pressão de ar (arma de fogo...). Tome-se ainda em conta o facto de haver uma atracção pela luz, por parte de quase todos os personagens.
Água - elemento da idade adulta; a água é o elemento que ronda a personagem de Sean Penn, é ele que caminhando no deserto, chega ao mar (a água como o elemento da calma, e nessa cena final, do luto). É a água que o trás ao mundo pelo acordar. Mas é também a água como vida (e alegria): como a coisa que rega as plantas, mas também diverte as crianças.
Também o paganismo (e panteísmo) se acerca da compreensão estelar (astronómica) da realidade, a esse propósito os símbolos e referências também pululam e mais uma vez a sua impregnação na narrativa é natural:
O espaço como espaço - A presença de fenómenos astronómicos é evidente, isto é, temos uma sequência de mais de 20 minutos dedicados à expansão inicial do universo e respectivas massas gasosas, desenvolvendo as galáxias, estrelas, planetas, sistemas solares e afins. Ou seja, o espaço estelar aparece, mais do que simbolicamente, como um facto. Isto é, antes de iniciar um processo de formalização da ideia de orquestração espacial, Malick dá-nos essa mesma orquestração no seu estado natural (?).
O indivíduo como astro - É do conhecimento geral que todos os movimentos estelares são elípticos; a elipse é também um processo narrativo que atravessa primeiramente a literatura e mais tardiamente o cinema. Malick usa-o com calma e certeira precisão. Mas o que verdadeiramente constrói uma noção do Homem como planeta é o facto de quase todas os enquadramentos dos personagens se fazerem em contraluz. Todas as personagens giram e torno do sol.
A estrutura familiar como fenómeno astronómico - Aqui temos uma organização familiar mais do que clássica, o pai como objecto pilar, sobre o qual todos os elementos giram. Todos vivem sobre a gravidade daquela figura (lembro a sequência da chapada ou a discussão ao jantar) e como tal, todos vivem asfixiados sobre o peso da autoridade. Note-se a este propósito o período em que o pai se ausenta e tudo é mais leve, os miúdos saltam pela casa, pulam nas camas, batem com as portas; a mãe é livre, ri a toda a hora, até voa (literalmente).
O lar como espaço estelar - A sustentar este ponto há duas cenas tocantes na sua simplicidade simbólica; primeira, a casa está inundada, tudo flutua (os candeeiros, o ursinho de pelúcia), até ele, que nada pela casa em direcção à porta. A casa como local fantasmagórico (espacial) em que a ausência de peso é evidente. "Tudo se passa como se Terrence Malick filmasse o espaço familiar como uma derivação terrestre da imensidão da galáxia". A segunda é o momento em que uma carrinha passa lançando DDT sobre todas as crianças, estão elas dançando numa nuvem branca, como se fosse uma supernova ou uma anã branca.
Toda a composição da imagem, em Malick, é um caso de paganismo (e panteísmo). A esse respeito temos dezenas de casos ao longo deste filme, mas note-se que não há apenas um acumular de símbolos ocos, há sim uma ordem, uma espécie de organização em elementos:
Terra (entenda-se o solo) - elemento fundador; veja-se a origem da vida como resultado dos tumultos vulcânicos. E repare-se a forma como se acompanha o crescimento da árvore que é plantada no início da narrativa, aquela árvore suporta toda a família, cresce com os seus elementos e protege-os; é um pilar de todo aquele sistema relacional, é calma, é segurança, é sombra.
Fogo/Luz - elemento juvenil; os miúdos do bairro brincam nas ruas do bairro suburbano e ateiam um fogo ao lixo, é coisa de brincadeira, é uma prova de masculinidade (assim como a janela partida), mas também é prova de coragem o tocar na ficha elétrica (a luz...), ou o colocar o dedo na boca da pressão de ar (arma de fogo...). Tome-se ainda em conta o facto de haver uma atracção pela luz, por parte de quase todos os personagens.
Água - elemento da idade adulta; a água é o elemento que ronda a personagem de Sean Penn, é ele que caminhando no deserto, chega ao mar (a água como o elemento da calma, e nessa cena final, do luto). É a água que o trás ao mundo pelo acordar. Mas é também a água como vida (e alegria): como a coisa que rega as plantas, mas também diverte as crianças.
Também o paganismo (e panteísmo) se acerca da compreensão estelar (astronómica) da realidade, a esse propósito os símbolos e referências também pululam e mais uma vez a sua impregnação na narrativa é natural:
O espaço como espaço - A presença de fenómenos astronómicos é evidente, isto é, temos uma sequência de mais de 20 minutos dedicados à expansão inicial do universo e respectivas massas gasosas, desenvolvendo as galáxias, estrelas, planetas, sistemas solares e afins. Ou seja, o espaço estelar aparece, mais do que simbolicamente, como um facto. Isto é, antes de iniciar um processo de formalização da ideia de orquestração espacial, Malick dá-nos essa mesma orquestração no seu estado natural (?).
O indivíduo como astro - É do conhecimento geral que todos os movimentos estelares são elípticos; a elipse é também um processo narrativo que atravessa primeiramente a literatura e mais tardiamente o cinema. Malick usa-o com calma e certeira precisão. Mas o que verdadeiramente constrói uma noção do Homem como planeta é o facto de quase todas os enquadramentos dos personagens se fazerem em contraluz. Todas as personagens giram e torno do sol.
A estrutura familiar como fenómeno astronómico - Aqui temos uma organização familiar mais do que clássica, o pai como objecto pilar, sobre o qual todos os elementos giram. Todos vivem sobre a gravidade daquela figura (lembro a sequência da chapada ou a discussão ao jantar) e como tal, todos vivem asfixiados sobre o peso da autoridade. Note-se a este propósito o período em que o pai se ausenta e tudo é mais leve, os miúdos saltam pela casa, pulam nas camas, batem com as portas; a mãe é livre, ri a toda a hora, até voa (literalmente).
O lar como espaço estelar - A sustentar este ponto há duas cenas tocantes na sua simplicidade simbólica; primeira, a casa está inundada, tudo flutua (os candeeiros, o ursinho de pelúcia), até ele, que nada pela casa em direcção à porta. A casa como local fantasmagórico (espacial) em que a ausência de peso é evidente. "Tudo se passa como se Terrence Malick filmasse o espaço familiar como uma derivação terrestre da imensidão da galáxia". A segunda é o momento em que uma carrinha passa lançando DDT sobre todas as crianças, estão elas dançando numa nuvem branca, como se fosse uma supernova ou uma anã branca.
2 comentários:
Esse still que encontraste é belíssimo! Vou-to roubar.
leva tudo; eu também o tirei a alguém pelas internets, mas nem pedi autorização.
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