2.01.2012

 
«Bem, num certo sentido, não posso saber o que não sei. É filosoficamente evidente.» Fez uma daquelas pausas leves, em que voltámos a não saber se troçava subtilmente ou se falava muito a sério, para lá da nossa compreensão. «Na verdade, toda a história de imputar responsabilidades não é uma espécie de cobardia? Queremos culpar um indivíduo, para que todos os outros sejam ilibados. Ou culpamos um processo histórico, como forma de desobrigar os indivíduos. Ou é tudo um caso anárquico, com as mesmas consequências. Parece-me que há - houve - uma cadeia de responsabilidades individuais, todas necessárias, mas não uma cadeia tão longa que todos possam simplesmente culpar todos os outros. Mas é claro que o meu desejo de imputar responsabilidade podia ser mais um reflexo do meu próprio estado de espírito do que uma análise justa do que acontecera. Esse é um dos problemas centrais da história, não é Sir? A questão da interpretação subjectiva ou objectiva, o facto de precisarmos de conhecer a história do historiador para podermos compreender a versão que nos é posta à frente.
Houve um silêncio. E não, ele não estava a gozar, nada que se parecesse.

O SENTIDO DO FIM, Julian Barnes Tradução de Helena Cardoso

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