Eastwood antes de ser realizador, foi actor em filme profundamente marcantes na cultura popular, como o homem sem nome nos filmes do Leone ou o detective Harry Callahan. Tornado realizador, Eastwood acompanhou estas personagens nos seus próprios filmes; fez o último tomo de Dirty Harry com (o muito hitchcockiano) Sudden Impact ou uma incursão no western spaghetti com o High Plains Drifter (e até certo ponto com o The Outlaw Josey Wales). O curioso é que Eastwood compreendeu de forma singular que esses personagens estavam-lhe colados de tal forma, que mais ninguém os poderia representar. No entanto o senhor Clint foi sofrendo essa coisa que é o passar do tempo, sendo por isso obrigado a envelhecer os seus personagens outrora jovens e vigorosos. Isto foi um processo gradual, mas teve como pontos mais marcantes: Dirty Harry tornou-se no mentor em Rookie e depois no reformado polícia com problemas coronários em Blood Woork e mais recentemente em veterano de guerra, idoso, e resmungão em Gran Torino; O pistoleiro teve uma vida mais curta, tornando-se atracção de circo em Bronco Billy e lenda envelhecida em Unforgiven.
Feita a introdução, podemos encarar J. Edgar como um filme da saga Harry, no sentido em que a personagem principal é uma autoridade da lei, contornando (sempre que necessário) a mesma, profundamente obstinada em fazer justiça, mas sempre dentro do seu código de honra. J. Edgar Hoover é portanto a versão enfarpelada do polícia de gatilho rápido e voz grave. Aliás, o que espanta é que toda a temática do envelhecimento, se prolongue, mesmo quando já não é o Eastwwod actor a assumir o protagonismo. Assim, é-me completamente estranha toda essa exaltação em torno de algo tão essencial como o trabalho de maquilhagem em J, Edgar.
O envelhecimento (nomeadamente das figuras de autoridade) é um ponto temático fundamental nos filmes de Eastwood (veja-se a tirada de Space Cowboys dita pelo próprio Eastwood: The clock's ticking, Bob. And I'm only getting older) e este não é excepção. Aliás, é neste em que a velhice assume as suas consequência mais profundas. Assim, percebe-se que toda a camada de silicone e maquilhante acumulada nas faces dos actores é propositadamente exagerada, existe um propósito, o de construir essa (nesta caso não metafórica) carapaça que é a velhice; que esconde um espírito muito mais jovem do que o corpo aparenta. [de forma semelhante, Bird é um caso de uma biografia que gira sobre essa coisa terrível que é a morte lenta do corpo jovem: no final, o corpo de Parker é levado e o médico descreve o cadáver como o de um indivíduo perto dos sessenta, uma amiga sua levanta-se e informa-nos: He was 34]
Neste sentido há um raccord maravilhoso, o casal Hoover e Tolson, envelhecidos e com as suas gabardinas e malas de cabedal pela mão entram num elevador, quando saem são de novo jovens. Cheios de energia, motivados a iluminar o caso Lindbergh. E assim, num simples corte, Eastwood explicita esta que é a mais pessoal das ideias dos seus filmes, a de que ele mesmo está envelhecido, mas não é velho nenhum.
Deveria referir a genialidade da mão de Eastwood que decide nunca atribuir corpo a Kennedy, a cena das escutas é ilustrada por grandes planos de pormenor em mão e pés, e a visita à sala oval não passa da porta, decorrendo a reunião numa (eastwoodiana?) elipse.
Feita a introdução, podemos encarar J. Edgar como um filme da saga Harry, no sentido em que a personagem principal é uma autoridade da lei, contornando (sempre que necessário) a mesma, profundamente obstinada em fazer justiça, mas sempre dentro do seu código de honra. J. Edgar Hoover é portanto a versão enfarpelada do polícia de gatilho rápido e voz grave. Aliás, o que espanta é que toda a temática do envelhecimento, se prolongue, mesmo quando já não é o Eastwwod actor a assumir o protagonismo. Assim, é-me completamente estranha toda essa exaltação em torno de algo tão essencial como o trabalho de maquilhagem em J, Edgar.
O envelhecimento (nomeadamente das figuras de autoridade) é um ponto temático fundamental nos filmes de Eastwood (veja-se a tirada de Space Cowboys dita pelo próprio Eastwood: The clock's ticking, Bob. And I'm only getting older) e este não é excepção. Aliás, é neste em que a velhice assume as suas consequência mais profundas. Assim, percebe-se que toda a camada de silicone e maquilhante acumulada nas faces dos actores é propositadamente exagerada, existe um propósito, o de construir essa (nesta caso não metafórica) carapaça que é a velhice; que esconde um espírito muito mais jovem do que o corpo aparenta. [de forma semelhante, Bird é um caso de uma biografia que gira sobre essa coisa terrível que é a morte lenta do corpo jovem: no final, o corpo de Parker é levado e o médico descreve o cadáver como o de um indivíduo perto dos sessenta, uma amiga sua levanta-se e informa-nos: He was 34]
Neste sentido há um raccord maravilhoso, o casal Hoover e Tolson, envelhecidos e com as suas gabardinas e malas de cabedal pela mão entram num elevador, quando saem são de novo jovens. Cheios de energia, motivados a iluminar o caso Lindbergh. E assim, num simples corte, Eastwood explicita esta que é a mais pessoal das ideias dos seus filmes, a de que ele mesmo está envelhecido, mas não é velho nenhum.
Deveria referir a genialidade da mão de Eastwood que decide nunca atribuir corpo a Kennedy, a cena das escutas é ilustrada por grandes planos de pormenor em mão e pés, e a visita à sala oval não passa da porta, decorrendo a reunião numa (eastwoodiana?) elipse.
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