2.16.2012

2 comentários:

Luís Mendonça disse...

Atenção: a conversa do "Cronenberg já não ser Cronenberg" é a conversa que o próprio Cronenberg faz consigo mesmo nos seus mais recentes filmes.

Tirei do CINE RESORT esta passagem de uma entrevista a Carpenter, que acho lapidar: Unfortunatelly, he takes himself so seriously, these days. He's an artist now (sobre David Cronenberg (...)

Sobre o que é ou não é um artista, não creio que seja significativo aqui, mas quanto ao "levar-se demasiado a sério" é, para mim, o calcanhar de Aquiles do Cronenberg recente. Ele está demasiado preocupado consigo, de tal modo que se um dia virasse numa máscara de Maria de Lurdes Modesto não me deixaria tão surpreendido quanto isso!

Ricardo-eu disse...

eu li o texto do palhares sobre o Argento e essa citação inicial. E concordo. A questão para mim é outro, um realizador não pode assumir um trajecto artístico monótono, não pode estar sempre a fazer de sim mesmo (como Almodovar tem feito e como tu mesmo referiste sobre Le Havre). Este percurso, 'mais artístico' de Cronenberg é a meu ver a única saída possível. Com um cinema profundamente físico (gore) ele derivou para um cinema mais cerebral, onde talvez Spider seja o filme da transição. E peço desculpa, mas cito-me (quando escrevi sobre Dangerous Method):

Mas como é possível criar algo tão coisa-de-relojoeiro. E aí o filme responde-nos. Pela consciência do pecado. Pelo recalcamento. Ou seja, só a existência de uma obra tão viciosa [entenda-se o cinema gore do anos 70, 80 e inícios dos 90] permite agora, a Cronenberg fazer um filme assim, tão puro [entenda-se melodramático, clínico, como já era Eastern Promises e até History of Violence]. E se é o filme que nos dá a chave sobre a sua compreensão, então é porque Cronenberg sabe o que anda a fazer e que este é o único caminho em frente que o seu cinema podia tomar.