2.19.2012

Quem estava ao corrente não tinha palavras bastantes para explicar. Os salões do Casino tornavam-se Sodoma e Gomorra, acrescentadas do que mesmo em fantasia parecia excessivo. Havia em permanência um show de Paris com bailarinas nuas, trapezistas nuas, cantoras nuas, duas jibóias que ao som de uma música sensual se enrolavam numa rapariga nua. Nua!
(...)
 A nossa excitação tornou-se difícil de conter quando as bailarinas atacaram o cancan inicial. Não vinham nuas, infelizmente. Mas aqueles corpos, o vermelho dos lábios, os sorrisos, as pernas ágeis, longas e desengonçadas, que mau grado a distância pareciam voas sobre as nossas cabeças, eram compensação mais que generosa.
Num relâmpago de entusiasmo decidi nunca mais ir ao cinema. Comparadas àqueles monumentos de carne viva, que me piscavam o olho e se contorciam em promessas, as actrizes do ecrã pareciam singularmente insípidas. Nenhuma delas jamais sopraria beijos na minha direcção como a bailarina da segunda fila, a loira vestida de lantejoulas verdes.

Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia - O Joalheiro, J. Rentes de Carvalho, Quetzal, 2011

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