7.22.2008

Começando por uma ponta

Quinta feira passada decidi ir ver o Funny Games, ontem (segunda) fui ver o Tropa de Elite e agora (terça) estou sentado a escrever.


Começando por uma ponta, que sempre ajuda um pouco na organização, Funny Games é uma daqueles filmes que todos os que não viram o primeiro devem ver (como eu fiz), muito provavelmente para quem conhece o filme original este é indubitavelmente e por ser uma sequela, inferior ao primeiro, mas é certo que para quem não viu, tudo é uma surpresa e é um dos melhores dos ano.

Este filme é na verdade um filme (quase) de terror, na medida em que trata da violência com uma racionalidade maquinal absolutamente asfixiante e paralisante, o que vemos no ecrã, são humanos contra máquinas de matar, era como se estivéssemos a ver uma batedeira a lutar contra uma dona de casa, só que neste caso, não é uma batedeira, mas sim um animal (no sentido mais animal que a palavra pode ter) e uma bela mulher.

Michael Haneke ao fundo com cabelo e barba branca, no set de filmagens

Mas a perfeição do filme vem dessa frieza como trata a violência aplicada, eles fazem o que fazem porque sim e os outros morrem porque sim, a ausência de motivo nos actos é um autentico choque para uma pessoa que é educada com objectivo de encontrar sempre o motivo das coisas.

Mas o filme não se fica por aí, a colocação do espectador na trama do filme é assassina e aterrorizadora para quem especta, na medida em que o realizador (um senhor pelo qual tenho grande estima-Michael Haneke) nos faz em parte responsáveis pelo que acontece, na medida em que nós tanto deixamos acontecer, como queremos que aconteça; quando nos piscam o olho, nos perguntam se queremos que a tortura continue, não são só perguntas mas sim pequenas punhaladas que a audiência sofre durante a projecção, uma dessas facadinhas é por exemplo o retroceder de uma cena de modo a que o espectador possa 'desfrutar' mais uma vez (num mau gosto mórbido) a violência física e psicologia.

Funny Games original de 1997

Funny Games U.S. 2007 (estreado em Portugal só em 2008)

A acrescentar a isto, um tópico que já tinha sentido no [REC], ou seja, a origem do mal. O mal não tem que vir de um dracula feio ou de um monstro com pregos na cabeça, nem de uma canibal, nem de um senhor doido num hotel, aqui o mal vem do mais cândido e belo jovem, que apenas quer comer um docinho com ovos.

Por isso, é fácil de fazer a pergunta, de onde vem realmente o mal? Do que se espera? Do que não se espera? De nós mesmos (?) que o fomentamos e o criamos nas nossas atitudes e gostos de carnificina e mortandade?

PS: Em relação aquela pergunta que fiz, faz algum tempo, sobre se era admiração ou crítica a referência da brancura do Clockwork Orange, a minha resposta sincera é: não sei, no entanto acredito que seja de facto uma crítica na medida em que toda a linha do filme é criticar à violência gratuita e sendo sinceros, o Laranja Mecânica oferece porrada a torto e a direito, mas verdade seja dita há uma moral, uma vez que a obra de Kubrick é, em certo modo, um conto: menino bonito porta-se mal, obrigam-no a portar bem, as pessoas a quem ele fez mal quando era mau, vingam-se dele, ele volta a ser mau. Moral da história a bondade não pode ser obrigada. Por isto e em conclusão se calhar é de facto admiração.

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