7.26.2009

Boa Sorte

O homo-erotismo sempre foi uma constante na obra de Nicholas Ray, assim como de muitos realizadores do período clássico americano (Imitation of Life tem uma cena em que as duas protagonistas conversam placidamente na mesa da cozinha, mas todo o ambiente e a própria forma de dirigir de Sirk seguem todos os parâmetros de uma magistral cena de paixão). Sempre de forma muito dissimulada, está claro, sempre se deram a entender coisas ao espectador, mesmo que se o fizesse da forma mais pura, sem qualquer sombra de perversão.

The Lusty Men com Robert Mitchum e Arthur Kennedy é um caso mais do que óbvio: por uma lado porque Ray, desde o princípio criou um personagem másculo e sábio (Jeff/Mitchum) e por outro lado um homem já adulto, mas profundamente infantil, que vê no primeiro tudo aquilo que ele idolatra (Wes/Kennedy). Claro é como água, que desta relação de amor, pouco poderá fruir, ainda para mais quando se cria o triângulo amoroso entre a mulher do segundo e o nosso vaqueiro, Jeff. A subversão é máxima (às vezes até me dá vontade de ser nostálgico em relação à censura, mas é coisa que passa depressa), pois chega a ter ciúmes da própria mulher, por esta (sempre fiel ao seu marido) ser cobiçada por Jeff - objecto do seu desejo proibido (?) - ciúme que vira em ódio ao cobiçador pelo desprezo deste, numa genial sequência (como escreveu Bénard da Costa: ”uma sucessão de planos de estarrecer”), a da festa, que termina em beijos (entre Jeff e a Louise) e posteriores socos (entre Jeff e Wes).

Tudo isto para que a trama venha a culminar poucos minutos antes do final com uma troca de olhares, que deveria fazer parte dos livros de história, em que antes de Jeff fazer o seu regresso ao rodeo, Wes olha-o com verdadeiro Amor e lhe deseja boa sorte, soltando o mais terno dos sorrisos. Uma cena de estarrecer.

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