8.13.2009

Male Bonding

Há qualquer coisa naquilo que me encanta profundamente, não é só o entretenimento de uns bons 45 minutos, como é o House ou o CSI ou grande parte da produção televisiva americana. Há ali, naquela forma constantemente irrequieta e grande parte das vezes burlesca (leia-se brejeira) uma verdadeira noção de serviço público. Primeiro porque Boston Legal é a versão televisiva dos filmes de advogado da onda liberal dos anos setenta do cinema americano, sendo que a cada episódio, se batalha por princípios éticos, por ideais, que deveriam ser basilares numa sociedade moderna crescentemente ‘desprincipiada’ (desculpem o neologismo), princípios os quais têm direito a umas alegações finais que são, sem excepção, de estarrecer. Segundo, porque mantendo o seu liberalismo (embora tenha como personagem principal, um tal de Crane (Shatner é grande) que é o mais conservador dos republicanos com todos os defeitos destes [e diga-se também as virtudes]) é profundamente crente numa noção humana muito mais vasta que a concepção normalizada (que a televisão também e 'tão bem' propaga); ou seja, desenvolve-se ao longo de 5 séries a mais terna, complexa e verdadeira relação entre dois homens (sem ceder directamente à homossexualidade): male bounding é o que lhe chamam, eu simplesmente tenho a acrescentar que o machismo dominante de muitas séries (sendo que nesta é simplesmente um acessório qual comic relief) é redutor da complexidade humana e prejudica profundamente a noção de amizade que se vem institucionalizando na nossa consciência social.

Tudo isto, porque num episódio, Crane propôs a Alan (James Spader é grande) que se casassem como forma de legitimarem a sua amizade. Metáfora perfeita.

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