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Ao contrário de outros que canibalizam a memória colectiva em filmes vazios de alma e sentido, aqui, a aprendizagem (em nada escolar) é feita com compreensão completa da herança dos mestres. Mas não nos cinjamos no exercício de estilo que a descrição pode induzir, aqui há toda a mão criativa de Martin, que encaixado numa formatação comercial de estúdio, mostra as garras da sabedoria, em sequências tão memoráveis: a da caverna em que o campo contra-campo é feito sempre com o fogo em primeiro plano, injectando volatilidade não só nos personagens, como na própria essência da narrativa, ou os planos iniciais no nevoeiro (película enublada), ou a apresentação por parte do polícia do estabelecimento prisional (mais uma vez um controlo da câmara em planos de 180 graus de fazer cair da cadeira [a imagem]).
Que 'Barroco' fica aqui que nem ginjas, não há dúvida; uma vez que o filme segue os rápidos das circunvalações cerebrais de uma mente perturbada. À medida que se avalia os recantos da psique, questiona-se a própria noção do real, até que, em êxtase freudiano, tudo se quebra em pedaços, assim como o espectador, que se vê sentado diante de uma obra de tão superior graça, que pasma! Se algum boi há, está na plateia, a olhar o palácio.
P.S.: Esta antítese entre a forma redonda (perfeita) e os rococós do barroco não é acidente, muito pelo contrário, é pelo retorcido da trama que se chega é plenitude. Di Caprio nunca me convenceu, desta vez esteve mais próximo, mas mesmo assim... . Lembrar que este foi o filme com maior fim-de-semana nas bilheteiras americanas de Scorsese, sendo (até agora) o seu segundo filme com melhores resultados. A cena dos fósforos já tinha sido feita por Amenabar em Tesis. Eu sou o primeiro a enquadrar-me na classe bovina, depois de ver um filme destes, se ofendi alguém, peço desculpa, foi apenas um devaneio escrito.
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