Numa entrevista ao Ípsilon, Thierry Garrel que este ano presidiu o Júri do DocLisboa, falou sobre a televisão pública e a relação que esta deve estabelecer com o documentário (especificamente) e com a programação alternativa (em geral). A seguir ficam algumas das suas ideias, que são sempre uma achega à causa da petição.
- No documentário, os verdadeiros filmes documentários são aventuras, são obras únicas, filhos únicos. É aliás isso que cria as dificuldades da televisão com o documentário: a televisão gosta da repetição, do controle, do quotidiano, da continuação. Gerir o específico é mais complicado do que gerir o repetitivo, o estereótipo. Mas é por ser singular que o documentário se destaca.
- (...) A situação da televisão portuguesa é consternante. Estive cá há dez anos e recordo-me que a RTP ainda tinha algumas pequenas veleidades... Que uma televisão nacional como a RTP não tenha blocos regulares de documentário e de documentário de autor, com uma verdadeira escrita e um verdadeiro ponto de vista, é um escândalo nacional. Pergunto-me como é que uma sociedade pode estar cega a esse ponto.
- Se aprendi alguma coisa na televisão, é que, quando se aposta no público, oferecendo-lhe obras novas, supostamente complexas, mas que falam essa tal língua universal, o público está lá sempre. Sempre. Não está lá instantaneamente; a televisão comercial quer sempre medir instantaneamente a presença dos espectadores em frente ao écrã, e isso não é possível. Mas precisamente através de uma programação podemos construir um público.
- Apesar dos novos meios de comunicação e tecnologias nascidas da revolução digital - um mundo que é uma selva e que ainda não tem economia - acho que a televisão programada ainda vai viver muitos anos. Há 30 anos anunciava-se o fim da televisão com a video-cassette, há 25 anos era o cabo que a ia matar, de cinco em cinco anos aparece uma novidade tecnológico-civilizacional que me parece francamente empolada...
3 comentários:
Muito interessante.
(E muito interessante que o senhor Tréfaut não assine a nossa petição...)
(E muito interessante que o Ípsilon se recuse a falar dela...)
tudo a seu tempo, eles hão de ser obrigados a falar.
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