O jornalismo é uma actividade que tem um poder que não se pode comparar a quase nenhuma outra forma de ganha a vida. É um trabalho, mas é acima de tudo um compromisso com a sociedade. Se um médico é responsável pela vida dos seus pacientes, um jornalista é responsável pela opinião publica nacional.
Dito isto, acho que se faz muito mau jornalismo em Portugal.
Por um lado crê-se na ideia macaca de que a imparcialidade é um bem intocável, garantindo assim que os leitores/telespectadores acreditem na imparcialidade do que lhes é apresentado, condição unicamente utópica da apresentação informativa, mas que se vende como coisa palpável.
Por outro lado há uma forte componente mexeriqueira, ou melhor: campesina, de encarar os acontecimentos (isto para corroborar as opinião do senhor Catroga que, e com razão, afirmou que os jornalistas só se interessam por pelos púbicos).
Feita a introdução, quero desde já esclarecer que isto não é acontecimento recente, nem resultado da degradação da nosso sociedade que tantos comentadores querem impingir. No pós-25-de-Abril, Sophia de Mello Breyner discursava em comícios do PS aquilo a que ela chamava de Capitalismo das Palavras. Há época os slogans vazios de sentido multiplicavam-se, hoje são as postas de pescada, ou como lhes chamam os comentadores - Soundbytes. A questão está em que, em vez de um discurso coeso e dono de uma narrativa própria, muitos políticos, comentadores e opinion-makers querem apenas lançar umas frases programáticas (no sentido de ser coisas mecanizadas e não no sentido de programa político) um tanto ao quanto polémicas para terem a atenção mediática.
De entre muitos exemplos do dito capitalismo das palavras praticado pelos próprios jornalistas está a utilização ignorante da expressão 'ajuda externa' quando é de todos sabido que de ajuda a intervenção externa tem pouco. Depois temos a 'compra da dívida', mais uma vez uma usurpação da realidade pela manipulação das palavras, isto é capitalizando-as, uma vez que existe uma componente positiva no acto de vender, no entanto, o que nós estamos a fazer é comprar dinheiro e não a vender dívida. Surgem depois palavras que ganham misteriosamente um sentido quase mítico, elas são: 'Troika' ou 'Mercado'.Fala-se de ambas sem mesmo ter a certeza que as conhecemos, são entidades estranhas, etéreas mesmo (pela sua ausência física), por nunca ninguém ter entrevistado nenhuma das duas.
Isto tudo para concluir que Lar Von Trier na verdade disse algo, que embora desaconselhável, não é verdadeiramente errado ou imoral. Disse que não simpatizava com Israel apesar de nada ter contras o povo judeu (julgo que se criou um tabu no que toca às questões semitas, porque toda a crítica é transformada nalguma forma de racismo e/ou nazismo - já agora estendo o parêntesis acrescentando que o nazismo tem vindo a ganhar estatuto mediático, porque perece que não existe forma de criticar alguém se não comparando-o a Hitler ou algum dos seus associados, nomeadamente no lado de lá do atlântico), disse que tinha crescido pensando ser descendente de judeus e ao que parece que os seus antepassados na verdade eram alemães convictamente arianos (sendo que nem uma nem outra origem o incomodavam em demasia), além disto acrescentou que era capaz de se pôr na pele de Hitler nos seus derradeiros momentos. Contas feitas, embora politicamente incorrecto, nenhum crime de lesa pátria. Mas os jornalistas quando mordem um pernil só soltam quando a coisa já está bem morta.
Esta deveria ser a conclusão de um comentário vagamente político e crítico da mediatização do vazio, mas não tenho melhor forma de acabar o texto senão escrevendo isto que estão lendo
Dito isto, acho que se faz muito mau jornalismo em Portugal.
Por um lado crê-se na ideia macaca de que a imparcialidade é um bem intocável, garantindo assim que os leitores/telespectadores acreditem na imparcialidade do que lhes é apresentado, condição unicamente utópica da apresentação informativa, mas que se vende como coisa palpável.
Por outro lado há uma forte componente mexeriqueira, ou melhor: campesina, de encarar os acontecimentos (isto para corroborar as opinião do senhor Catroga que, e com razão, afirmou que os jornalistas só se interessam por pelos púbicos).
Feita a introdução, quero desde já esclarecer que isto não é acontecimento recente, nem resultado da degradação da nosso sociedade que tantos comentadores querem impingir. No pós-25-de-Abril, Sophia de Mello Breyner discursava em comícios do PS aquilo a que ela chamava de Capitalismo das Palavras. Há época os slogans vazios de sentido multiplicavam-se, hoje são as postas de pescada, ou como lhes chamam os comentadores - Soundbytes. A questão está em que, em vez de um discurso coeso e dono de uma narrativa própria, muitos políticos, comentadores e opinion-makers querem apenas lançar umas frases programáticas (no sentido de ser coisas mecanizadas e não no sentido de programa político) um tanto ao quanto polémicas para terem a atenção mediática.
De entre muitos exemplos do dito capitalismo das palavras praticado pelos próprios jornalistas está a utilização ignorante da expressão 'ajuda externa' quando é de todos sabido que de ajuda a intervenção externa tem pouco. Depois temos a 'compra da dívida', mais uma vez uma usurpação da realidade pela manipulação das palavras, isto é capitalizando-as, uma vez que existe uma componente positiva no acto de vender, no entanto, o que nós estamos a fazer é comprar dinheiro e não a vender dívida. Surgem depois palavras que ganham misteriosamente um sentido quase mítico, elas são: 'Troika' ou 'Mercado'.Fala-se de ambas sem mesmo ter a certeza que as conhecemos, são entidades estranhas, etéreas mesmo (pela sua ausência física), por nunca ninguém ter entrevistado nenhuma das duas.
Isto tudo para concluir que Lar Von Trier na verdade disse algo, que embora desaconselhável, não é verdadeiramente errado ou imoral. Disse que não simpatizava com Israel apesar de nada ter contras o povo judeu (julgo que se criou um tabu no que toca às questões semitas, porque toda a crítica é transformada nalguma forma de racismo e/ou nazismo - já agora estendo o parêntesis acrescentando que o nazismo tem vindo a ganhar estatuto mediático, porque perece que não existe forma de criticar alguém se não comparando-o a Hitler ou algum dos seus associados, nomeadamente no lado de lá do atlântico), disse que tinha crescido pensando ser descendente de judeus e ao que parece que os seus antepassados na verdade eram alemães convictamente arianos (sendo que nem uma nem outra origem o incomodavam em demasia), além disto acrescentou que era capaz de se pôr na pele de Hitler nos seus derradeiros momentos. Contas feitas, embora politicamente incorrecto, nenhum crime de lesa pátria. Mas os jornalistas quando mordem um pernil só soltam quando a coisa já está bem morta.
Esta deveria ser a conclusão de um comentário vagamente político e crítico da mediatização do vazio, mas não tenho melhor forma de acabar o texto senão escrevendo isto que estão lendo
2 comentários:
muito obrigado
sobre isto convido-o a visitar http://emprestimonaoeajuda.wordpress.com/
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