Porque já faz tempo desde que vi o último filme de Sofia Coppola o que tenho para escrever é reduzido.
Note-se que todo o filme se nos aparece em plano fixo, câmara estática (não conto, os planos em que a câmara está montada num carro e por isso se move). Há no entanto dois travelings. Dois só. Em sentidos inversos.
Primeiro: Um movimento lentíssimo em frente. O nosso actor frívolo está a fazer um molde da sua cara para um trabalho de maquilhagem. Espera que pasta branca que lhe tapa o rosto seque. Só tem os orifícios dos olhos e das narinas. Respira com dificuldade. A câmara aproxima-se e o som da respiração intensifica-se, não fosse o ofegar e estaríamos em silêncio num qualquer estúdio de LA.
Segundo: Um movimento lentíssimo à retaguarda. O nosso actor frívolo está deitado numa espreguiçadeira juntamente com a sua filha. Está silêncio o o sol da manhã banha-lhes o corpo. Parece estar calor. Parecem estar sozinhos. A câmara afasta-se e começamos a perceber que afinal há mais pessoas nas redondezas. É a piscina do condomínio. Pais e filhos refrescam-se nas águas e há alegria no rosto de todos.
O rigor da imobilidade ganha sentido pelo movimento. Ou seja, a imobilidade de todo o filme serve para convocar a atenção do espectador para os casos em que as coisas se mexem. O plano à frente é pois um entrada no individuo e o que se nota é que, lá dentro, tudo é vazio e silencioso. Por oposição o movimento à retaguarda é o enquadramento do indivíduo no meio; o que notamos é que o que parecia ser igualmente vazio é sim preenchido pelas cores vibrantes.
Fazer a descrição (profunda) da vacuidade de uma classe de profissionais de Hollywood com apenas dois planos é obra.
Sem comentários:
Enviar um comentário