7.24.2011

Monólogo para duas mãos e um pé - III

Tentando concluir a sequência de posts anteriores, lanço-me pois à resposta que a pergunta, porque razão é que nos libertamos dessa forma de organização [transmissão oral do conhecimento] e que riscos estão envolvidos no regresso da mesma, invariavelmente pede que se responda. 


Vivemos hoje numa época em que o acesso à informação é mais fácil. No entanto o risco que se corre é esse mesmo, havendo tanta informação o mais natural será que a mesma não seja acedida por todos de forma organizada. Dito de outra forma, hoje em dia há que saber dar a mão a quem conhece e deixar-mo-nos guiar por esse mar de conhecimento que se encontra tão perto. Correndo o risco de nos perdermos, a preponderância da opinião não é mais do que a necessária indicação do caminho a percorrer; uma mão 'amiga' que nos tenta ajudar a seguir um caminho de fruição científica, artística, humana ...
É pois fácil perceber porque razão a opinião é hoje tão manifesta.

A pergunta que estendi e agora analiso é no entanto mais longa, que riscos estão envolvidos no regresso [da transmissão oral do conhecimento].
Algumas das consequências são visíveis (literalmente, se não houvesse esta crença na opinião, este espaço onde dou a minha opinião não existiria), mas o que é profundamente pervertido é o facto de a opinião estar a ganhar consistência de lei. Hoje em dia a opinião não é igualmente valorizada. A falácia da autoridade é hoje (principalmente pela forma maniqueísta como as televisões vêm fazendo o seu trabalho) uma constante que não é combatida nem denunciada. Chegámos ao ponto de admitir que a nossa lei, aquela que é vigente em solo português, esteja dependente de opinião de terceiros. Algumas entidades do estado estão obrigadas, por lei, a não comprar títulos de dívida que não tenham a cotação máxima. Ou seja, nós, portugueses, obriga-mo-nos a viver consoante a opinião das agências de notação financeira.

O que temo é que, talvez por necessidade, venhamos a viver uma época da história em que a palavra de cada um vale de forma diferente e que a opinião antes de valer pela sua fundamentação, valha pela boca de quem a exaltou.

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