7.23.2011

Monólogo para duas mãos e um pé - II

Tendo em conta o texto anterior tenho que abordar um tema que cada dia se torna mais premente: O crescendo de uma sociedade em que a espuma da opinião vai ganhando uma força demasiada. Numa época em que a forma de aceder à informação se fará cada vez mais pelo resultado de opiniões de amigos e conhecidos (entenda-se - redes sociais), a força da opinião é cada vez mais significativa nos chamados media tradicionais (vulgo televisão, imprensa, rádio).

Contra mim falo, mas estou em crer que esta confiança quase de oráculo no que o outro diz só pode favorecer uma progressiva estupidificação e uniformização do pensamento. Tome-se o caso do professor Marcelo Rebelo de Sousa. A forma como este se vem apresentando na TVI é de uma pobreza franciscana, em vez de dar de facto uma opinião fundamentada sobre os diversos assuntos, o professor lança frases soltas (as notas finais são isso mesmo), atuardas sem qualquer fundamento. O que acontece é que, de facto, a opinião passou a valer por si e não pelo seu fundamento.

Outro caso curioso é perceber como, nas noites dos canais de notícias do cabo, pululam os programas de 'debate' político; uns melhores que os outros, claro está. Curioso é reparar que há menos de dez anos esta infestação de opiniões não existia, nem era sequer expectável que viesse a existir.

Desde a semana passada, parece que Portugal inteiro se ofendeu. Percebeu que a opinião não é mais que isso: uma opinião. Esta súbita compreensão veio pela avaliação negativa dos títulos da dívida portuguesa pela agência de notação Moody's. As empresas de notação são, como se vem avisando há muito, entidades privadas que vivem de dar opiniões (note-se que aquando das comissões políticas do senado americano, resultantes do crash da bolsa em 2008, as três agências foram intimadas a responder a uma série de perguntas e em sua defesa afirmaram que os resultados das suas avaliações não eram mais que meras opiniões). Como o mercado financeiro está desregulado, essas opiniões provocam efeito no valor de certos produtos financeiros e essas mesmas agências lucram com os resultados das suas próprias opiniões. [não quero no entanto afirmar, nem dar a entender que Portugal é uma inocente vítima desta empresa]

Esta regressão da forma como lidamos com a informação é preocupante, e por isso mais uma vez pergunto:
A questão fundamental é perceber porque razão é que nos libertamos dessa forma de organização [transmissão oral do conhecimento, isto é, a opinião de certos indivíduos oráculos contra a produção de conhecimento científico, humanístico ou artístico e a respectiva transmissão] e que riscos estão envolvidos no regresso da mesma.

Sem comentários: