Será que aquilo que vejo e oiço quando carrego no botão com o algarismo dois do meu comando é a RTP2 ou serão simplesmente ecos de um canal que estando já morto ainda não se terá apercebido.
O que caracteriza um ser vivo é, entre outros aspectos, a capacidade de adaptação ao meio (que pode ser mais ou menos abrangente). Da mesma forma, as instituições deverão ser capazes de encarar a mudança e mudar com ela. A RTP2 não foi capaz (depois de uma petição com 2962 assinantes, um debate público, vários textos de opinião quer em blogues quer na imprensa normal e interrogações através do parlamento e do programa A voz do cidadão) de reagir de forma alguma. Assim sendo, talvez precipitando-me, declaro a morte do segundo canal de televisão pela sua incapacidade de se mostrar vivo.
É possível que a coisa ainda não esteja bem morta; de quando em vez tem uns estertores, mas isso pode muito bem ser só gazes. É possível que esteja em coma ou sofra de alguma forma de patologia rara e incurável que lhe retira toda a capacidade motriz. Como se sabe, quando o paciente fica muito tempo imóvel o atrofio dos músculos é inevitável. São precisos anos de terapia para conseguir voltar a levantar uma chávena de chá; para além disso há sempre a possibilidade de um enfermeiro maroto lá do serviço fazer das suas e ...
Mas há ainda esperança. A RTP2, como a noiva em Kill Bill, pode acordar e desatar à pancada com todo o bicho careta que lhe apareça pela frente. Basta que uma melga lhe poise no braço e lhe dê uma ferradita [+]. Pois bem, estou em crer que a entrega da petição no assembleia (e consequente iniciação de comissão parlamentar) possa ser essa ferradita que reanime a bela adormecida. [note-se que de modo nenhum acho que esta petição seja uma melga, no sentido em que aquilo que reivindicamos é o simples cumprimento do contracto de conceção e faze-mo-lo de forma fundamentada e nada zunzunante]
Mais não seja, esta petição foi uma marcação de posição, aquilo que os americanos chamam um wake up call, vá, um sinal de vida. De agora em diante quem ocupar aquela cadeira, de director do segundo canal, não poderá esquecer-se que o público da RTP2 está atento e à espera. Se o senhor que lá está gosta de fazer de morto, deixá-lo. Outro há de vir e esse já virá prevenido. Que esta petição, que o esforço de 5 rapazes empenhados, tenha servido para abrir uma porta, vá, uma janela, à voz pública, à sociedade civil. Que por esta porta (ou janela) entre o teatro, a ópera, a literatura, toda a forma de artes, de espetáculos e de cultura(s). Que, como nós, haja um insurgimento de todos aqueles que queiram ver um serviço público vivo e respirante.
Sim, quero um serviço público com guelra e não, não quero um canal público a cheirar a bafio.
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