3.17.2012

Eu gosto (começar um texto sobre War Horse com 'eu gosto' deve afugentar muita gente) de filmes que assumem a sua vertente inchada. Acho graça aos filmes que vivem nessa corda bamba dos exagero, do ridículo, do piroso. War Horse é um filme que quer ser assim, mas não consegue. Plano fundamental que justifica esta perspectiva é esse em que o arado puxado pelo ainda potro fracote, num impulso de força e sorte, racha um calhau em dois. Spielberg a achar-se Ford é uma coisa divertida de se ver, ainda para mais quando o moralismo de um se ajusta tão mal ao outro (embora Ford não seja realizador inocente nessas coisas). Outro aspecto que aponta neste sentido é esse receio de filmar a morte de frente. Durante a primeira hora de filme vemos o realizador que se cimentou com filmes sobre o acto de matar a evitar mostra-lo. Primeiro é o capitão que morre o entre ir vir de um contra-campo, depois os miúdos que são executados na sombra de uma vela de moinho, e depois um cavalo que é abatido num fora de campo. Claro que depois ele não consegue resistir mais e tem que lançar-se na senda Private Ryan e da guerra do tiro no miolo com salpicos de sangue. É mais que tudo curioso ver Spielberg tão claramente fora do seu meio e tão desejoso de fazer diferente; mas é pena que caia na funda cova do seu umbigo.

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