Irene (2009) de Alain Cavalier
Como aqueles ornitólogos que podem vomitar ao avistarem um pássaro de beleza tão rara que se torna experiência violenta, assim Óscar José Nunes deitou fora 40 anos de vida, o tempo que levou a escrever um diário sobre a Ilha do Corvo - oito mil entradas, os dias dos barcos, os dias em que nasceram e morreram pessoas, o dia em que o Zepelin sobrevoou a ilha, 1945, o primeiro avião, 1983, o primeiro dia de energia eléctrica...
Óscar viu o Zepelin sobrevoar, e como que por antagonismo, como sugere, sonhou que levitava e que com dificuldade passava por entre os cabos eléctricos.
Sem saúde, sem capacidade de organização em tempos mais recentes, precisou de se libertar de tanto peso: queimou os seus diários, o único pedaço de memória escrita sobre o Corvo, no arquipélago dos Açores, ilha habitada na zona sul, 400 habitantes.
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