4.27.2012

Variáveis independentes (I)

O mocinho entra sorridente na sala envidraçada e antes que diga qualquer coisa Werzog diz-lhe, não fales, que temos que colocar o microfone. corte. o moço limpa o vidro para que os reflexos não afrontem a lente da câmara. Werzog fala-lhe: eu não tenho que gostar de ti, para te respeitar e acreditar que um estado não devia matar. Ele acena-lhe em sinal de entendimento. Assim, sem mais nem menos, Werzog pôs os pratos a limpo, vamos então ao filme.

Werzog apesar da frieza de rocha não é indiferente ao espectador, sabe que nós, deste lado estamos à beira da explosão, sabe que toda aquela situação de morte em latência é irrespirável, portanto ele motiva um certo humor, estranhíssimo escape. Quando um dos criminosos presos lhe explica o sucedido durante uma perseguição, ele pergunta-lhe sobre o facto de as balas alojadas no corpo não interferirem com os detectores de metais, assim, sem mais nem menos, uma gargalhada. Isto repete-se várias vezes, porque será sempre por ali (pelo humor) que nós nos vamos mantendo capazes, inteiros.

Mas aquilo que mais me alegra são as tangentes que Werzog constrói, quando, a meio de uma entrevista ele encontra um filão e explora-o: neste filme há um rapaz que tivera problemas com um dos condenados, depois de nos dizer aquilo que é suposto, eles eram isto e fizeram aquilo, começa a falar de si, de como não sabia ler mas foi a prisão que lho ensinou (quase a tentar emprestar uma luz ao enclausuramento de 40 anos) e que agora é casado e ama a sua recém nascida filha; noutros filmes estes desvios ocorrem de forma igualmente surpreendente, no anterior Cave of forgotten Dreams ele encontrava um arqueólogo que lhe contava a sua anterior vida de malabarista de circo, ou por exemplo Encouters at the end of the World que é (como se percebe pelo nome) um filme todo dedicado a descobrir quem são as pessoas que vivem na Antártida.
Este desejo por descobrir um certo encanto em todos os seus entrevistados é o que me seduz nos documentários de Werzog, quer seja o condenado à morte que lhe conta a história da suas férias de verão aos 13 anos, ou um reverendo que lhe explica o maravilhamento de encontrar um casal de esquilos passeando pela relva verde do campo de golf.

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