5.10.2012

Variaveis independentes (VI)

O que me havia sido vendido não era este filme. Tudo indicava que íamos ter uma descida aos infernos. Uma coisa de um pavor incompreensível, despero, sofrimento, mortos, feridos, sangue, tripas, olhares reprovadores para a câmara e tudo o que os romenos nos têm dado. Afinal este é uma comédia. Comédia insuportável; é do constrangimento que é imposto ao espectador que nasce o riso, única saída possível daquele ambiente mal-são.

Mas talvez o que seja mais curioso abordar no filme é uma certa prespectiva religiosa que se vai apresentado no filme muito subtilmente e que impregna os personagens de uma realidade beata que nos é tão familiar.

A certa altura a avozinha grita, já em desespero ao aperceber-se do deteriorar da situação, é o Apocalipse. Claro que não! Mas logo depois, quando já bem amarrados, a ex-mulher e o novo companheiro, o nosso 'herói' explica-se: não fui eu que causei isto (o apocalipse) foram vocês que causaram isto a vós mesmos, foste tu (à mulher) que me trais-te, aliás, não me trais-te só a mim, trais-te jesus cristo. Aqui está! frase magistral (quase tumular). De certa forma é esta a natureza escondida do filme; tudo se organiza no sentido da culpa (coisa mais cristã não há) e da forma como todos nós somos os supremos pecadores.

Neste sentido temos uma sequência muito emblemática deste princípio (a qual é como que introdução temática ao que que vai acontecer): pai e filha, ternorentamente olham da sua varanda um funeral. A menina, inocentemente pergunta, achas que aquele senhor vai para o céu ou para o inferno (a resposta do pai é a costumeira), mas depois as coisas divagam e começamos a adivinhar o destino dos elementos do agregado, mas a resposta é politicamente correcta, a mãe e a avó (e até o novo senhor) vão para o céu, ele inclusive terá direito de passagem não tanto pelo bem que fez, mas pelo que já teve que penar (ai que cristão).

Tudo gira sobre isso, sobre o sofrimento como coisa renovadora, sobre a culpa como motivadora de sofrimento.

Depois de cair de uma boa altura, de estar estourado e ensanguentado (ou seja, depois de muito sofrer) o homem pede auxílio numa farmácia, o polícia que o ajuda diz-lhe, depois de devidamente desinfectado e ligado, levanta-te e caminha. (é preciso dizer mais alguma coisa)

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