1.24.2008

Festim Nu (Naked Lunch)

Ainda em Dezembro do ano que agora acabou, fui ver o último filme do grande Cronenberg, o Eastern Promisses (Promessas Perigosas), que está agora nomeado para melhor actor pelo trabalho irrepreensível do Viggo Mortensen que já havia trabalhado no perfeito uma história de violência (filme genial já agora).

Por apreciar em grande medida o trabalho deste extraordinário realizador, aluguei o filme Festim nu no meu clube de vídeo, coisa que já tinha querido fazer antes de ver o Eastern Promisses, mas que acabou por não ser possível.

O filme começa da melhor maneira (o genérico inicial é perfeito, como se pode ver na fotografia), a musica muito jazzy, muito cool, e o ambiente derivado de uma fotografia em tons pastel dão um look ao filme memorável, quase se assemelha aos filmes de suspense policial que se passam nos anos 30 e 40 (L. A. Confidencial ou mesmo o recente Dália Negra), e com os quais acaba por criar uma ligação, devido ao desenvolver da trama que no seu aspecto mais formal trata de uma investigação sobre tráfico de drogas.

E depois chega a genialidade de Cronenberg como argumentista (adaptação do romance de William S. Burroughs), a imaginação de um homem, um realizador canadiano que infelizmente tem vindo a ser descriminado pela academia durante toda a sua vida. O filme ganha uma dimensão exterior a si mesmo, insufla-se na sua grandeza criativa, rebenta de inspiração, e deixa-nos perturbados pela complexidade dos assuntos tratados e pela crueza fantástica (leia-se fantasia) dos temas e das cenas.

O filme trata-nos de um exterminador de insectos (intrepretado por Peter Weller) chamado Bill Lee, que tem como emprego exterminar os ditos seres, tudo começa, quando a meio de uma exterminação o produto (um pó amarelo) acaba e o serviço fica por terminar, coisa que chega mesmo a levar ao gozo por parte dos seus colegas de emprego, tudo parece normal, mas as coisas começam a intrincar, percebemos que a mulher do nosso personagem anda a injectar o pó das baratas e afirma que a dita droga lhe dá uma "moca literária", entendemos também que as companhias do exterminador não são os seus colegas da profissão actual, mas sim um par de escritores mal enjorcados mas espirituosos que aspiram a um sucesso quer pouco provável, quer pouco merecido, é de notar que o nosso exterminador é uma pessoa letrada, que havia sido escritor, mas que tivera que largar a escrita, pois considerava-a demasiado perigosa.

Para uma mais fácil compreensão dos temas do filme, penso que seja agradável ler esta descrição do IMDB sobre o filme.
"After developing an addiction to the substance he uses to kill bugs, an exterminator accidentally murders his wife and becomes involved in a secret government plot being orchestrated by giant bugs in an Islamic port town in Africa"

A droga e as composições poéticas apocalípticas são frequentes na sua casa, assim como o sexo. A dependência destas actividades, mas em especial da droga exterminadora, faz com que o nosso personagem se dirija a uma consulta de desabituação, onde o médico lhe fornece uma papa substituta do pó feita á base de centopeia aquática gigante, de Marrocos, e aqui começa a real estranheza e criatividade, parte da acção passa-se para Marrocos, devido ao efeito da droga, começa a visualizar seres muito estranhos, tais como maquinas de escrever em forma de insectos (ou o contrario), assim como outros seres mais invulgares que deitam um ranhoca verde de uma das suas antenas e que provoca assim como dependência um prazer descomedido.

Aqui está a genialidade, pois é difícil destingir o que são as alucinações e os que é real, a obra fecha-se dentro dela mesma, (à semelhança do que David Lynch faz), mas deixando a possibilidade do espectador apreciar a obra em causa e admirar todos os momentos. Dos quais se pode relembrar o momento do tiro no copo, o fim inesperado, as cenas de sexo entre o austríaco e o rapaz da empresa esquisita, o Kiki, ou o dealer de papa de centopeia com sotaque alemão e ainda a mulher do mercado que hipnotiza mulheres e trafica bichos estranhos.

Pois já me ia esquecendo, o nosso personagem durante o desenvolver da história vai escrevendo o livro Naked Lunch (daí o nome), que na verdade é um relatório para uma empresa, na qual trabalha e na qual é um agente secreto sem saber, informação dada pela sua joaninha gigante em forma de máquina de escrever, que para alem de uma fiel companheira, é o seu superior na cadeia hierárquica da dita empresa, assim como é conselheira, os outros membros da história, como é o caso da sua mulher seriam membros de uma empresa oposta e concorrente.

Toda a obra é de uma confusão extrema, pouco se percebe, mas nessa possibilidade de o espectador recordar apenas o que mais prazer lhe deu, o mais memorável, ou o mais chocante, a possibilidade de cada um interpretar a obra á sua maneira, dá á peça artística uma aura de génio, inigualável.

7.5/10 - Muito bom




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