1.30.2008

Um Peixe Fora de Água (The Life Aquatic with Steve Zissou)


Estou a escrever este post pela segunda vez, porque, por algum acto desconhecido ao colocar o embed de uma música, tudo o que havia escrito tinha desaparecido e não consegui recuperar, por isso será normal que este texto não preze tanto pela inspiração. Começando pelo que me lembro de ter escrito:

O melhor deste filme
: Mais ao menos tudo é melhor neste filme, não há nada que se destaque pela negativa, no entanto o ambiente tão característico de Wes Anderson, caracterizado pela fotografia quase arte pop são o melhor.

O pior
: A tradução do título para português, única e exclusivamente culpa nossa, será uma das piores traduções alguma vez feita, passar de The life aquatica with Steve Zissou, para um peixe fora de água, é quase ignóbil.

Esta comédia é de um dos grandes mestre do cinema americano, Wes Anderson é um dos mais interessantes realizadores, que faz filmes um tanto ao quanto independentes, mas que desenvolveram o seu estilo ao longo de toda a sua carreira, que marca profundamente o panorama cinematográfico actual.

Não foi a primeira vez que vi um filme de Anderson, já tinha tido a felicidade de poder ver The Royal Tenenbaums - Uma comédia genial, filme que caracteriza Anderson de uma maneira esplendorosa, filme o qual foi galardoado com o Óscar de melhor argumento original, prémio perfeitamente merecido. Vi à alguns dias este filme como que se de uma preparação se tratasse para a visualização do novo título de Anderson que se encontra de momento nas salas portuguesas faz três semanas, chamado Darjeeling Limited, filme que decorre no ambiente indiano e que conta com as participações de Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schwartzman.
Mas voltando a este filme, comecemos pelo argumento, é assinado pelo realizador do filme (como todos os que já realizou anteriormente), mas assinado em parceria com Noah Baumbach, argumentista e também realizador, que é habitual na escrita dos argumentos de Wes, possivelmente conhecem-no pela sua primeira longa metragem que chegou a Portugal em 2005, suponho eu, chamada a lula e a baleia, quem se lembra, recrodar-se-há que este é um drama familiar que nada tem de cómico, sobre um divorcio e sobre o progressivo desmoronar da relação que os filhos tinham com o seu pai, que antes era considerado quase como um deus, mas que com o divorcio mostra a sua face mais negra e quase mórbida pela infelicidade e miséria, um filme marcadamente misantropo. Não foi propriamente um dos filmes que mais apreciasse no ano, por ser demasiado cru e realista que chocava pela enormidade dos sentimentos das personagens. No entanto Noah comporta-se as mil maravilhas numa comédia com esta.

A comicidade de um filme como este advém da família ser tão disfuncional e de todas as personagens serem na sua maioria esvaziadas de profundidade e este estado cool de alma dá origem a um humor muito particular (a cena que aparece no trailer dos capacetes com antena de rádio, ou cena dos murros na cara), por outro lado do mesmo local que provem o riso, vem também um pouco do drama familiar que envolve toda a peça como se se tratasse de uma alma enevoada que protege o filme de um exterior, e que mais facilmente convida o espectador a entrar no ambiente tão fantástico, irrealista e quase infantil que são os filmes de Anderson.
Para acompanhar um argumento destes temos um dos mais curiosos actores da actualidade, Bill Murray, este actor que fez filmes tão bons como os Lost in Translation (Sofia Coppola), ou o Broken flowers (Jim Jarmusch), é sem dúvida um dos melhores da sua geração que consegue arrancar um sorriso a qualquer um. Pura e simplesmente adoro-o, não digo que sou um fan, mas sou um profundo apreciador. Murray é muito piquinhas a escolher os seus filmes, só aceitando fazer um filme quando o rei faz anos (e este rei não faz anos todos os anos!!), mas apesar disso, já apareceu em 5 dos filmes de Anderson, ou seja, todos, com excepção do primeiro, quer em papeis principais, como é o caso deste, quer como papeis secundários, há vezes em que só aparece numa cena, para avisar que ainda se lembram dele e depois não faz mais nada (caso do novo Darjeeling, pelo menos segundo o que li). Este preciosismo por parte de Murray, e a insistência (felizmente para nós) nos filmes de Anderson, só mostra que Anderson é de facto um dos grandes realizadores da actualidade.

Para acompanhar Murray durante o filme, temos o actor fetiche de Anderson (que co-assinou o filme The Royal Tenembaums), Owen Wilson, este actor participou em todos os filmes de Anderson, ambos conheceram-se quando, na escola, tiravam o curso de argumentista, foi Anderson que estimulou Wilson a iniciar-se na representação.
A acompanhar este par de óptimos actores, temos a belíssima e talentosa actriz, Cate Blanchett, que aqui desempenha o papel de jornalista que tem como missão escrever um texto sobre o ultimo documentário de Steve Zissou (Murray), mas no percurso, apaixona-se por Ben (Owen), pressuposto filho ilegítimo de Steve, que recentemente se junta à equipa de Steve para gravar o seu ultimo documentário sobre o tubarão que matou o seu melhor amigo, durante a gravação do filme anterior.
Em acrescento, referir só a presença do actor e cantor Seu Jorge como secundário, mas principalmente é memoravele pelas cenas que canta no filme, em especial no final durante os créditos. Ficam aqui 30 segundos mais outros 30 para abrir o apetite.


Há um aspecto curioso sobre o filme, é um filme que como se percebe pelo trailer é uma homenagem a Cousteau, e como homenagem que é torna-se um pouco biográfico, e não querendo entrar em spoils - coisa que não vou fazer - aconselho a procurar depois da visualização uma biografia do senhor que se refira ao filho, tenho certeza que acharam deveras interessante.
Posso referir uma série de pontos que são merecedores de atenção pelo prazer que dão aos espectadores:
  • Primeiro, todas as sequencias em que se passa de divisão para outra no barco, em que as cenas são feitas num único plano, e em que se mostra o barco sujeito a um corte transversal, estas sequencias mostram a mestria de Anderson e a sua criatividade, ajudando acentuar a sua atmosfera característica.
  • Segundo, as cenas de “acção” (leia-se cenas de muita diversão), em que assim de um momento para o outro, a história que está muito paradinha e a desenvolver-se lenta e calmamente, recebe um choque eléctrico vindo de um espaço conhecido e explode numa cena de acção quase semelhante a um filme como Die hard ou 007, em que Murray começa a correr com uma pistola na mão e a matar tudo o que é mau-da-fita. Hilariante é a palavra que melhor expressa o sentimento sentido.
  • Terceiro, todas as criaturas/animais que aparecem no filme são produto de animação por stop motion, este tipo de animação que devem conhecer de a fuga das galinhas, a noiva cadáver, ou o estranho mundo de jack, criam neste filme mais um motivo forte para sustentar que a atmosfera quase infantil e fantasiosa de Anderson é parte integrante do seu género e que por sua vez demonstra a sua genialidade.
Em conclusão, um filme extraordinário que demosntra a inventividade de Anderson, da coerência do seu trabalho, na criação de histórias e ambientes, assim como o seu grande e requintado bom gosto na selecção da música e na apuradíssima fotografía (cinematografía para alguns).

9/10 - Muito Bom



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