2.21.2008

Maria Antonieta (Marie Antoinette)

Muito se falou deste filme no ano da sua estreia em 2006, muitos dos críticos, cá e não só, dividiam-se entre o fantástico/genial e o péssimo/exercício de estilo sem bases nem objectivos, um desperdício do palácio de Versalhes e uma perda de tempo.

Como já fiz ver, este tipo de filmes que provoca disputas e críticas acesas são os meus preferidos, uma vez que eu normalmente gosto sempre de meter a colher e opinar um pouquinho, e como normalmente acontece, eu fico do lado dos aduladores, que homenageiam e amam o título em causa, desta vez não escapou á regra.


Mais tarde, o filme acabou por ter um sucesso comedido, nos oscars ganhando a sua única nomeação, a qual era para melhor guarda roupa.

Mas verdade seja dita, este é um dos melhores filmes de já algum tempo. Não via um filme com um formalismo técnico, um coerência tão grande e um preciosismo, com um estilo perfeito, interessante e mais que isso absolutamente delicioso.

Sofia Coppola é sem dúvida uma das grandes da sua geração, dessa geração de cineastas que vai agora no terceiro filme que começaram nos anos 90 e que trazem atrelados a si uma genialidade criativa que supera em grande parte a geração que a antecedeu, e que também deu e dá muitos frutos. Quem duvida-se do seu bom tecnicismo, direcção de artistas e sentido estético, acompanhado de uma necessidade intrínseca e que agora se vê profícua de criar algo diferente do que se estava habituado, apercebe-se que o motivo da sua dúvida era desnecessário.

Vinha nos extras do DVD que aluguei um comentário de um dos actores muito secundários que dizia algo como: "Sofia queria fazer um bombom, mas acabou por ficar um bombom sexy" e pensar nisto que é tão simples, nós ficamos deslumbrados com um resumo de um filme tão bom em duas palavras, BOMBOM SEXY, é que se alguém duvida, veja ou reveja, aquilo é um bombom delicioso, que satisfaz todas os nossos desejos, que preenche todos os nossos queres e que simultaneamente é adolescentemente sexy, um produto directo da MTV e que se coaduna com uma história de filmes biográficos de personagens históricas, tão habitual do cinema americano. Esta mistura quase explosiva entre a coquete francesa do barroquismo e os All Star MTV são uma das mais belas e quase subversivas ideias que o cinema alguma vez provocou e produziu.

Pois agora vejam esta pequena demonstração, aqui por baixo está o poster do filme que tem a mesma imagem que a capa do DVD, e olhem para aquela cara de menina reguila, adolescente mimada, de rapariga que passa o dia inteiro nas cuscuvelhices e a mandar mensagens de telemovel, mas que vive em França, na altura das revoluções francesas, que é casada com o rei sol com 14 anos e que tem nas suas costas a função de manter uma relação amistosa entre França e o seu país de origem, a Áustria, sendo por isso alvo de toda a socialite francesa e sendo um filho seu e do rei, uma das coisas mais esperadas e para a qual é empurrada/obrigada. Digam-me lá que isto não é genial., esta interligação entre duas épocas diferentes, afastados por espaços de tempo tão longos, mas que no filme parecem quase simultâneos, como se houvessem teenagers a passear por ai vestidas à século XVIII, cheias de folhos e com um cabelo do tamanho de uma antena parabólica.

Mas depois de ver o filme é isso que ficamos a pensar. A agrupar a esta série de elogios, acrescento ainda uma fotografia linda que tira proveito de um dos locais mais bonitos do mundo, que é o palácio de Versalhes, que aqui nos é apresentado como quase um reino de fantasia em que tudo é de uma estranheza, de um formalismo, cheio de maneirismos, normas absurdas e simplesmente estúpidas. Veja-se o rital do acordar em que uma menina de 14 anos se vê observado por mais de 20 pessoas que consoante a sua importância social, têm o privilégio de lhe dar a roupa, mas sempre sem lhe tocar, nem no mais ínfimo milímetro quadrado de pele, assim como as refeições como o pequeno almoço, e quando ela pergunta porque razão tem que se sujeitar a tão abstrusos rituais, a resposta é simples: "ISTO É VERSALHES". continuando os elogios, venha a tão famigerada banda sonora, que a todos parecia incomodar ou maravilhar, Coppola escolheu new order, the cure, the stockes, entre outras bandas pop/rock da geração MTV, e o ambiente criado por esta banda sonora neste filme de época faz toda a diferença.

Tudo começa quando a pequena menina tem que ir para França casar-se com os seu noivo arranjado e que só conhece por retratos, e no momento em que passa a fronteira tudo o que tinha deixa de ser seu, tudo o que lhe era íntimo desaparece, até a roupa que tinha no corpo, como se a partir daquele momento passa-se a ser outra pessoa, coisa que acaba por acontecer. a ingenuidade que Kristen Dunst transpira para o filme é extraordinária, bruta, viva, sincera, é um papelão, que provavelmente lhe marcará a vida. a acompanha-la está o seu marido interpretado de uma forma muito contida o senhor Jason Shawrtzman.

A par disto e da pressão social para ter um filho e da estranha relação que tem com o seu marido, que simplesmente é estranha, mas a partir da qual eles aprendem a amar-se profundamente, a par disto está o seu relacionamento extraconjugal, com um militar de alta patente que combatera nos estados unidos pela na guerra da independência. Este é o período do filme mais maravilhoso, porque nos enche de emoções que não conseguimos explicar, entender, mas que sentimos, que nos tocam, nos perturbam, nos afectam e em suma nos fazem amar este filme.

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