6.03.2008

Porque o Pollack não morreu

Acredito piamente que o artista é aquele que, pela sua arte retracta a vida, sua e dos outros, e que retrata o que é superior á própria vida, faz do metafísico o físico, transforma os sentimentos em matéria e a matéria em sentimento.
O artista vê o mundo e transfigura-o de modo a que este se torne sensível, visceral e verdadeiro na sua essência.
A obra mostra o sentimento, mostra a vida e a existência, mostra que se criou durante o tempo em que se esteve activo, o actor, realizador, o pintor, o escultor o músico, o arquitecto, todos fazem parte de nós porque a todos a arte afecta e ninguém passa indiferente a obras grandes da nossa história, por este motivo:
o artista não morre, porque só a arte pode prolongar a sua existência, mesmo que não seja de forma física, a arte prolonga a vida, uma vez que o artista mesmo não estando vivo, continua-o na mesma proporção que o espectador o mantêm na sua memória.
Não esqueçamos os que já partiram e marcaram os nossos dias, com as sua obra.


Para que a sua memória não seja esquecida, e para que o artista se mantenha imortal, vi hoje mesmo uma das sua obras mais consagradas (e não foi o Africa Minha) foi o maravilhoso "Os cavalos também se abatem" tradução do They shoot horses, don't they? (possivelmente uma das traduções mais felizes para a nossa a língua).
Depois de ver uma obra como esta é impossível alguém, no mundo, dizer que Pollack morreu, porque eu hoje vi o que ele viu, senti o que ele sentiu e recebi-o sob a forma das imagens do vídeo (que relíquias são essas "videocassetes") e ele estava lá, aqueles fotogramas eram e são parte de Pollack e ver a sua obra rejuvenesce quem a vê e quem a fez, mesmo já não estando presente.

Que filme maravilhosa eu vi!
Fazia muito tempo, que não via um filme que me tocasse tanto a nível sentimental (e devo confessar que sou muito lamechas e por isso é normal chorar em doses consistentes), mas este filme, teve quase o mesmo nível que o recente Into the Wild que também me fez chora por mais de um quarto de hora (esse fez-me chorar quase uma hora), no entanto, este filme é, ao contrario dessoutro. Faz sofrer pelo sofrimento e não pela alegria, faz sofrer pela dor e não pela ingenuidade, é um filme, mesmo que não sendo cru é violento, principalmente nas cenas de corrida, em que as caras suadas e esgazeadas e mortas dos nossos actores/dançarinos são algumas das coisas mais perturbantes (muito mais que um filme de terror).
O quebrar das ideias ingénuas de alguém que ainda não viveu, é simultaneamente um crime e uma palmada no ombro, agradeço a palmadinha e desculpo o crime, porque Pollack ainda não morreu para mim.
10/10- Maravilhoso

Sem comentários: