7.23.2008

Continunado pela ponta

Dizia eu num post anterior, que tinha visto Funny games e Tropa de elite. Falei de Funny Games agora vem a o que lhe segue.

Hoje quando passeava pela blogosfera portuguesa dedicada ao cinema deparei-me com críticas muito agressivas ao filme do senhor Padilha, que ele não conseguia equilibrar a maldade dos dois lados da balança, que o filme era nada mais do que um pretensioso filme em directo, telenovelesco e pseudo-critico-social.


Em verdade (não querendo dizer que alguém estava a mentir, mas sim expressando o meu pensar sobre a película em causa), este é um dos melhores filmes do ano.

Tenho tristeza quando conheço pessoa que decoram as falas do filme (sendo esta a parte menor do filme) como se se tratasse de um filme MTV e que a 'porrada' é muito 'gira' e 'divertida', em que cérebros (ou simplesmente crânios acéfalos) dizem gostar de um filme, sem pensarem no horror que lhes passou pelos olhos, e sim no prazer que lhes dá ver gente a levar tiros e morrer como se de tordos se tratassem.
E mais tristeza me dá saber que pessoas preferem ver o filme num DVD pirata que dirigirem-se ao cinema mais próximo e assistirem à sessão que mais lhes convier.

Mas em verdade este filme, não perde, mas sim ganha, força na criação de polos tão opostos que se tocam nas suas acções e em que os motivos que os movimentam, são na maioria das vezes semelhantes. É de facto estrondoso vermos um bandido 'mauzinho' a levar tau tau de um policia também 'mauzinho'. O que se vê de facto é esta crítica à violência, na sua essência, dando violência ao espectador de modo que o feitiço se vire contra o feiticeiro. O horror com que saí da sala escura depois de ver o filme, foi o mesmo se tivesse a assistir a uma tortura ao vivo, porque na verdade, o género quase documental do filme dá-lhe uma autenticidade inigualavel só comparável à própria vida, aqui as personagens, são mais do que isso, são seres humanos, mesmo que as suas acções os afastem desse estatuto. Quem morre é humano e quem vê morrer, como eu vi, é tão humano como o outro.


O filme não é moral, muito pelo contrário, na medida em que não diz se te portares mal lavas tau tau, ou se te portares bem isso não acontece, o filme tem como função mostrar que há coisas que acontecem, quer reais ou ficcionais (se podemos ver a ficção, então ela deixa de ser ficção e ganha a característica do real, na medida em que deixa o reino do imaterial e passa ao material), mas continuando, o filme é um portento devido a ser 'em directo', devido a uma montagem pérfida que nos faz aceitar uma situação para mais tarde a criticarmos arduamente.

A violência é má por natureza, quer empregue para o mal quer para o 'bem', seria essa a mensagem do filme, e nada de fascismos nem comunismos, nem cores partidárias, isto é cinema em directo, é cinema social, é cinema crítico e é grande cinema.

1 comentário:

Carlos Pereira disse...

Concordo absolutamente. Grande filme.

Abraço