Dr. Jekyll and Mr. Hyde (1932) de Rouben Mamoulian e Dr. Jekyll and Mr. Hyde (1941) de Victor Fleming
Em 1972 o humorista George Carlin tornou publico as Seven Words You Can Never Say on Television, elas eram: shit, piss, fuck, cunt, cocksucker, motherfucker e tits; para além da polémica, o que se pretendia era dar a conhecer uma certa hipocrisia que reinava, uma vez que através do bom interesse da comunidade e do serviço público, castrava-se as possibilidades artísticas de muito cineastas. Mas em 72 o código Hays ou Motion Picture Production Code já havia ido ao ar (1968) depois de mais de 30 anos de funcionamento. O código proibia qualquer forma de cinema que apresentasse cenas de nudez, podia haver crimes, assassínios, tiroteios, mas um coxinha era impensável. O código vinha prevenir um certo cinema dos anos trinta, filmes de conteúdo sexual fortíssimo; a título de exemplo, repare-se as diferenças entre o Dr. Jekyll and Mr. Hyde de 1932 por Mamoulian e a versão de 1941 de Victor Fleming, uma feita antes da implementação do código e outra depois.
Hoje em dia, as Américas têm a MPAA uma espécie de agência de rating do cinema, em que filmes recebem classificações que podem tanto atrair como repudiar os investidores. Este último ano vários casos de autoritarismos foram notícia, por exemplo, Blue Valentine (com Michelle Williams nomeada para o Oscar de melhor actriz) que por ter uma cena de sexo demasiado gráfica para os censores foi classificado de tal forma que os multiplexs americanos não exibem o filme, restringindo as hipóteses do filme ser visto por um público vasto (o realizador e produtor contestaram esta decisão e acabaram por ganhar o recurso), outro caso foi o filme The Kids are All Right (nomeado para melhor filme nos Oscars) que teve que reduzir de forma significativa as cenas de sexo entre Mark Ruffalo e Julianne Moore (que tinham um intuito puramente cómico).
O que me leva escrever esta longa introdução é a recente notícia que indica que o produtor do filme The King's Speech, Harvey Weinstein, se prepara para censurar com um apito as 42 vezes que se diz fuck no filme de Tom Hooper, para evitar que o filme que agora recebeu 12 nomeações para os Oscars perca público com uma classificação restritiva. De forma idêntica, um dos trailer do último filme David Fincher que usa a música Creep dos Radiohead, vinha em duas versões, uma para a Europa onde a estrofe You're so fuckin' special aparecia integral e outra, para o público americano.[notícia aqui]
O que me incomoda é o facto de, pelas perversão do sistema de classificação americano, os realizadores e produtores se auto-censurem sem necessidade de indicações externas e simplesmente por motivos comerciais castrem os próprios filmes. Aqueles que são os pais e mães das suas obras são aqueles que não hesitam em amputar-lhes a essência. Alguma vez nos passaria pela cabeça que Scorsese ou Tarantino seguissem este caminho comercialista?
2 comentários:
muito interessante este texto. thanks!
eu é que agradeço a atenção.
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