10.12.2011

Portugal proscrito

- Você é o Souza?
- Sou.
- Não reconhece?
- Não.
- Tadeu.
- Tadeu Pereira?
- O próprio.
- O que faz aqui?
- Sou ascensorista. Não vê?
- Começou quando?
- Sempre trabalhei nesse prédio.
- Eu também...
Aí observei que me tinha enganado. Era um hall igual, porém não era o meu prédio. Também, são todos semelhantes. Uniformes. Feitos com uma só planta. Arquitetura econômica dos Abertos Oitente. Graças a esse erro, redescubro meu velho amigo Tadeu Pereira. Não é possível. Tão envelhecido, acabado.
- Tadeu Pereira. Quem diria?
- E você? O que faz?
- Nada. Fui demitido.
- Por quê?
- Sei tanto quanto você.
- Estão demitindo baseados nos decretos secretos.
- Nunca ouvi falar.
- São secretos. Produtos do Ministério do Planejamento. Demissões em massa. O Esquema não aguenta mais criar empregos artificiais. Está além do limite da capacidade. Prefere o desemprego generalizado, problemas sociais, que uma dívida insuportável. Eles têm horror de dívida externa e ao mesmo tempo usam a dívida como justificação para tudo.
- Quer dizer. Mais gente nessas ruas o dia inteiro. Não dá.
- Tenho medo, Souza, Muito medo. Gente como nós o que vai fazer?

Ingácio de Loyola Brandão in "Não Verás País Nenhum", 1996, Ulisseia, Abril de 2011

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