Ao sair da sala do King, papo cheio com o Pater de Cavalier (e a desfrutar desse prazer estavam apenas mais três pessoas na sala), sinto-me ainda banzado com essa sequência final. Ambos os candidatos perdedores jantam como que dando-se tréguas, perdoando-se através de um copo de vinho. E o senhor Cavalier-ex-presidente diz ao senhor Lindon-ex-primeiro-ministro que tem algo para lhe dar. Busca os bolsos e não encontra. Encontra. Não encontra a caixa onde devia envolver o presente. Mesmo assim estende o braço sobre a mesa para o dar. Nisto Lindon pega numa câmara que estava no chão e diz: estamos com tempo, vamos filmar em campo-contra-campo. E recebe o presente através da câmara que segura em frente se si (câmara subjectiva ou objectiva?). Cavalier acha graça. Saca de outra câmara que tem e filma Lindon a receber da sua mão o mesmo presente que anda para cá e para lá (quem dá e volta a tirar ao inferno vai parar...). Há um corte, revemos a cena, agora da prespectiva de Cavalier. Fim.
O que me encanta é esta disponibilidade de Cavalier para pôr as suas câmaras nas mãos de um amigo. Essa treta do realizador prefeccionista e obsessivamente controlador é coisa para Kubrick e para os que se acham Kubrick (David Fincher?). Aqui há um desprendimento arrasador: toma a minha câmara e faz de mim o que quiseres. Esse é o lema.
De forma semelhante (e note-se, se tivesse conseguido encontrar as imagens que descrevo neste texto, esta publicação seria mais uma edição do Semelhanças) Agnés Varda no primeiro episódio (exibido em estreia mundial no Doc) de uma série de seis para o canal Arte, Agnés de ci de la Varda, visita Portugal e como é óbvio visita esse homem que é Portugal com perna (e que ricas pernas): Manoel de Oliveira. Encontra-o em Serralves e este fala-lhe de si e do seu cinema. De repente despe o casaco (e ao que parece era Inverno) e começa a combater, usando a sua bengala, uma figura invisível que se passeava por esses belos jardins. Ela pergunta-lhe o que está ele combatendo. Ele respondo que está combatendo o destino. Depois do recorrente número de Charlot, Oliveira termina a sua demonstração de habilidade. Quando se estão indo embora, Oliveira interessa-se pela pequena câmara que Varda usa. Dessas Handycam's que qualquer retrosaria electrónica tem. Varda entrega a sua câmara nas mãos do mestre e deixa-o filma-la. Fazendo o quê? de Charlot claro está. Mas quando Varda chega a casa e vê as filmagens percebe que o mestre deixou tudo fora de foco. Só as pingas de chuva na lente são distinguíveis. Talvez fosse o destino com mau perder. Toma a minha câmara e faz de mim o que quiseres. Esse é o lema.
O que me encanta é esta disponibilidade de Cavalier para pôr as suas câmaras nas mãos de um amigo. Essa treta do realizador prefeccionista e obsessivamente controlador é coisa para Kubrick e para os que se acham Kubrick (David Fincher?). Aqui há um desprendimento arrasador: toma a minha câmara e faz de mim o que quiseres. Esse é o lema.
De forma semelhante (e note-se, se tivesse conseguido encontrar as imagens que descrevo neste texto, esta publicação seria mais uma edição do Semelhanças) Agnés Varda no primeiro episódio (exibido em estreia mundial no Doc) de uma série de seis para o canal Arte, Agnés de ci de la Varda, visita Portugal e como é óbvio visita esse homem que é Portugal com perna (e que ricas pernas): Manoel de Oliveira. Encontra-o em Serralves e este fala-lhe de si e do seu cinema. De repente despe o casaco (e ao que parece era Inverno) e começa a combater, usando a sua bengala, uma figura invisível que se passeava por esses belos jardins. Ela pergunta-lhe o que está ele combatendo. Ele respondo que está combatendo o destino. Depois do recorrente número de Charlot, Oliveira termina a sua demonstração de habilidade. Quando se estão indo embora, Oliveira interessa-se pela pequena câmara que Varda usa. Dessas Handycam's que qualquer retrosaria electrónica tem. Varda entrega a sua câmara nas mãos do mestre e deixa-o filma-la. Fazendo o quê? de Charlot claro está. Mas quando Varda chega a casa e vê as filmagens percebe que o mestre deixou tudo fora de foco. Só as pingas de chuva na lente são distinguíveis. Talvez fosse o destino com mau perder. Toma a minha câmara e faz de mim o que quiseres. Esse é o lema.
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