1.30.2011

Um filme em Cinco Momentos: 2º


Afterschool (2008) de Antonio Campos

1.27.2011

From Asia with love

Começando no canto superior esquerdo e rodando no sentido dos ponteiros: Shi, Hahaha, Hanyo, Chun feng chen zui de ye wan, Tuan yuan, Kyatapirâ.

Se olharmos para o ano que passou e procurarmos por bons filmes do continente desconhecido, vemos apenas 24 city, Thirst, Madeo (lembrar que o filmes Tôkyô Sonata que passou pelo indie foi editado directamente em dvd e o vencedor surpresa dos oscars de 2008 nunca chegou a estrear - Okuribito/Departures). Mas ao que parece, este ano será diferente, com muito tempo para as distribuidoras marinarem os filmes que surgiram nos grandes festivais de 2010, este ano parece ser em cheio.


Para começar, prevê-se que estreie logo na primeira semana de Fevereiro, Shi - Poetry, filme de Chang-dong Lee que em 2007 realizou Milyang, candidato coreano ao oscar estrangeiro e em 2002 Oasis, filme que recebeu o prémio da crítica em Veneza. Shi passou por Cannes o ano passado de onde o realizador saiu com o prémio para melhor argumento. Trata-se de uma história de uma senhora que começa a aprender a escrever poesia quando sabe que sofre de alzheimer (trailer).
Temos, logo na semana seguinte, dois filmes de Kôji Wakamatsu, eles são: Jitsuroku rengô sekigun: Asama sansô e no michi (United Red Army) e Kyatapirâ (Caterpillar), um de 2007 o outro de 2010. Eu não faço a mínima ideia quem este senhor é, mas segundo o imdb, desde 1963 já fez mais de 100 filmes, no entanto a sua presença em festivais só começa a ser pronunciada com o filme de 2007, sobre o movimento paramilitar do mesmo nome (trailer). Caterpillar é um filme de época que esteve presente em Berlin do ano passado, onde venceu o prémio para melhor actriz; as história trata de uma mulher que recebe o marido estropiado da guerra (trailer).
Hahaha ganhou o prémio un certain regard em Cannes o ano passado, é o último filme do coreano Sang-soo Hong, o realizador que viu estrear em portugal (no ano passado) o filme Noite e dia/Bam gua nat que tinha estado na secção competitiva de Berlim em 2008. Um crítico de cinema e um realizador de cinema vão passar as férias de verão juntos, dois paspalhos que passam as férias a tentar engatar umas moças, com muito pouco sucesso (trailer).
Quan'an Wang é o realizador do filme que venceu o urso de ouro em 2006, Tuya de hun shi/Tuya's Marriage que nunca chegou a estrear comercialmente em Portugal. Tuan yuan/Apart together é o seu novo filme, que venceu o prémio para melhor argumento no festival da capital alemã. O filme trata de um homem que regressa à sua cidade natal para se encontrar com o seu primeiro (e já esquecido) amor, descobrindo que ela formou família e não poderá regressar com ele como desejava (trailer).
Na última edição do lido, um dos filmes em competição foi Hanyo/The Housemaid, um remake do filme homónimo de 1960 do falecido Ki-young Kim. O filme não convenceu nem crítica nem júris e saiu de mãos vazias, mas lançou-se nos Estados Unidos com uma campanha de marketing intensa. Da mesma forma que o original, temos um thriller erótico entre uma ama e o seu patrão, mas ao contrário do original, este é muito mais explícito (trailer). [realizado por Sang-soo Im que viu o seu Baramnan gajok/A mulher de um bom advogado estrear em portugal em 2003 depois de ter sido seleccionado para a secção competitiva de Veneza]
Este último título é já de 2009, filme sensação de Cannes (e vencedor do prémio de melhor argumento), do realizador Ye Lou, aquele de Yihe yuan/Summer Palace que por abordar a questão da praça de Tiananmen lhe valeu graves problemas com o regime, tendo ficado proibido de filmar. Este novo filme foi filmado às escondidas (em estilo guerrilha), chama-se Chun feng chen zui de ye wan/Sping fever que traduzido à letra seria algo do género Uma noite bêbada na brisa da Primavera. Por tocar de forma crua os temas da homossexualidade na china moderna o filme foi proibido (e pelo andar da carruagem parece que também em Portugal). [trailer]


P.S.: Também esquecido ficou o vencedor de Locarno em 2009, She, a Chinese. E o filme surpresa de Veneza, Jiabiangou/The Ditch primeira obra de ficção do realizador Wang Bing. 
P.S.: O filme Tokyo! que conta com 3 curtas, respectivamente de Gondry, Carax e do Joon-ho Bong (o do The Host e Mother), tem data de estreia prevista para 17 de Fevereiro. 

1.24.2011

Bruxaria

Amanhã saem os nomeados para os oscars e não há ninguém que fique indiferente, por muito que se queira disfarçar; enfim, eu envergonho-me me lhe dar tanta atenção, mas na verdade faço-o com grande prazer. Como tenho a mania que sou bruxo, vou adivinhar os 5 nomeados para a categoria de melhor longa documental e estou em crer que não vou errar um que seja, mas por segurança, vou atrelar um candidato suplente. Aqui vamos nós:

The Tillman Story
Waiting for 'Superman'
Inside Job
Restrepo
Exit through the gift shop
[Client 9: The Rise and Fall of Eliot Spitzer]

Não me aventuro quanto ao vencedor mas apostaria num dos dois primeiros. Amanhã fazemos contas.

P.S.: em letras muito pequeninas digo que GasLand, Waste Land e Precious Life têm também algumas hipótese, podem consultar a lista dos 15 filmes elegíveis aqui.

1.23.2011

Um presidente como aquele é que não

All the President's Men (1976) de Alan J. Pakula

1.21.2011

A consciência do milagre e a canja de galinha

Raramente vai acontecendo; um argumento perdido (de uma grande realizador) surge, alguém se propõem a realizá-lo. O filme lá sai, sempre uma desilusão! Mas esta nova obra de Sylvain Chomet é uma caso de fermentação perfeita, um caso de açúcar em ponto de pérola.
Muitas vezes me insurgi contra certos críticos que analisavam os filmes, não pelo que eles eram de facto, mas sim pelo que se proponham ser (ou melhor, pelo que tinham obrigação de ter sido), caso recente é The Tourist. Enquanto escrevo este texto, acontece-me o oposto: a singularidade do filme de Chomet vem daquilo em que se podia ter transformado, e conseguiu evitar. A forma como repudiou a colecção de gags tatianos mantendo os gags de Tati. A forma como consegui ter uma precisão emocional nunca antes conseguida, afastando qualquer sentimentalismo. A forma como é consciente do milagre que é fazer renascer Tati em filme, sem nunca se transformar numa lista de referências cinéfilas (mais ou menos) obscuras.
Este último ponto é, a meu ver, o mais importante. Tati morreu em 1982, mas com este filme temos a oportunidade de o ver de novo e fresco (basta ver a cena da oficina de automóveis para sentir o Tati pulsante). No entanto, temos também o novo filme de Chomet nas salas; cheio das suas marcas autorais tão características (basta ver as cenas da banda adolescente ou a personagem do coelho - que no argumento original era uma galinha). Este bambalear entre a referência e o original é um espectáculo de corda-bamba assustador, por ser tão perigoso e por acabar por ser profundamente tocante.
Um dos momentos em que se ganha uma dimensão divina é quando a moça cozinha uma sopa: por uma lado o nosso mago fica apreensivo que o cozinhado seja o seu coelho de estimação, num momento profundamente tatiano, mas depois essa mesma sopa é oferecida ao vizinho de quarto, um palhaço depressivo que se preparava para o enforcamento (coisa que não estou em crer que seja do argumento original). São estes momentos que cristalizam a ternura de um filme, que cada nova mão por onde passou, só ficou a ganhar. 

1.16.2011

O tempo anda, apesar de nada parecer mudar

A zero em comportamento organizou na Culturgest um ciclo da obra integral de Sergei Losznitsa, para minha infelicidade só vi My Joy, primeira obra de ficção do realizador, que estreia comercialmente na próxima quinta-feira.


Logo no início, ainda não tem o filme cinco minutos de duração, o nosso homem vai à cozinha de sua casa arranjar a marmita do almoço. Entra em casa, a mulher finge que dorme, ele abre o frigorífico tira o termo e um pão, guarda tudo numa sacola e sai, não se despede da mulher. Isto corre num plano geral da cozinha, que centra o frigorífico com o relógio da parede por cima. Os ponteiros do relógio não se mexem, mas ouvimos, baixinho, um tique-taque. O tempo anda, apesar de nada parecer mudar.
É esta a mensagem deste murro feito em forma de filme. O que Loznitsa (nascido na antiga URSS, vivendo actualmente na Alemanha, apesar de toda a sua obra ser sobre a Russia) está a dizer é que há uma condição inerente ao homem de desrespeito e desconsideração pelo outro, que é independente do regime político.
O realizador, que esteve a comentar a sessão, contou um episódio curioso. Aquando da queda do muro, um conjunto de filósofos foi convidado para comentar o acontecimento na rádio publica, um deles quando instigado a comentar a morte do comunismo respondeu que uma coisa que nunca nasceu não pode nunca morrer. A ideia é que o comunismo russo não foi um poder, foi mais um estado de ser, como coisa viscosa onde as pessoas boiavam e que como não tinha tido estrutura, esta não podia ruir. O filme gira todo à volta desta consciência do indivíduo como balde de esterco potencial, da maldade consciente, do desrespeito voluntário.
Mas não nos percamos numa visão socio-política do filme, Loznitsa faz cinema, e mais, fá-lo com tal agilidade que usa tão bem o plano-sequência como o plano contra-plano, pega no fora de campo e na elipse e gozas ao máximo, salta entre flashbacks, vai ao road movie, passa pelo filme de terror e consegue fazer-nos sorrir de vez em quando. O que mais agrada é (apesar de tudo o resto) a forma como a câmara nunca pára verdadeiramente, há sempre ali uma agitação, um desejo de filmar as pessoas, por exemplo: numa ida ao mercado, a câmara visita as caras dos transeuntes num bailado hipnótico até que pára em frente a um homem escuro e enrugado, pensamos que ele vai falar connosco mas de repente sai um homem da taberna ali ao lado e a câmara decide segui-lo, mas no fim ele vai-se embora e ela (a câmara) volta ao nosso protagonista.
Se algum mal houver neste filme é o facto de esperar demais do seu espectador, de pedir-lhe que jogue as peças por ele, de cruzar as linhas por ele, de intuir o que não se sabe, de supor o que se suspeita. Uma batalha em que dificilmente sairemos vencedores.

1.15.2011

Semelhanças - LXXXI

Zerkalo (1975) de Andrey Tarkovskiy

O estranho caso de Angélica (2010) de Manoel de Oliveira 

1.13.2011

Semelhanças - LXXX

Afterschool (2007) de Antonio Campos

The Social Network (2010) de David Fincher

P.S.: A câmara através da câmara: antecâmara 

1.11.2011

Semelhanças - LXXIX

Partindo do canto superior esquerdo e no sentido horário: Good Will Hunting (1997) de Gus Van Sant, A Beautiful Mind (2001) de Ron Howard, The Social Network (2010) de David Fincher

P.S.: Em época de exames, começo a lembrar-me da forma maniqueísta como a matemática é apresentada em tantos filmes. Enfim, porquê escrever em janelas?

1.06.2011

Um ano em partes - Última Parte



1 - Wendy & Lucy de Kelly Reichardt, ex aequo com Copie Conforme de Abbas Kiarostami


2 - Les herbes folles de Alain Resnais ex aequo com L'illusionniste de Sylvain Chomet


3 - Lola de Brillante Mendoza




4 - A Single Man de Tom Ford






5 - 24 City de Zhang Ke Jia




6 - Fish Tank de Andrea Arnold




7 - La teta assustada de Cláudia Llosa




8 - Filme do Desassossego de João Botelho





9 - Shutter Island de Martin Scorsese ex aequo The Ghost Writer de Roman Polanski e com Madeo de Joon-ho Bong

10 - Greenberg de Noah Baumbach ex aequo com Ruínas de Manuel Mozos



11 - Lebanon de Samuel Maoz ex aequo com Yo sono l'amore de Luca Guadagnino



12 - Das weisse Band de Micahel Haneke
13 - Mistérios de Lisboa de Raoul Ruiz 






P.S.:Não vi Looking for Eric, Kick-Ass, Religiosa portuguesa, Sin nombre, My son, my son waht have ye done, L'affaire Farwell, DeUsynlige (Àguas agitadas), La Pivelina, Gainsbourg, Le Refuge e Yuki & Nina, The American e Tulpan. 

1.05.2011

Um ano em partes - 3ª Parte

Eu e os filmes

Neste ano que agora acabou fui 126 vezes ao cinema, das quais, 14 à cinemateca, 6 ao IndieLisboa e 7 ao DocLisboa, fui ver um dos filmes do ciclo da culturgest dedicado ao Chris Marker e fui ver o Goodbye Dragon Inn a um ciclo organizado pelo Cinema City Alvalade, sendo que os outros 97 bilhetes são de exibições comerciais; apenas duas antestreias, uma delas do Shutter Island (curiosamente nesse mesmo dia, passou na cinemateca o Goodfellas e eu aproveitei a sessão dupla). Quanto aos filmes vistos por casa não tenho a mais pequena ideia (só sei estes porque guardo religiosamente todos os meus bilhetes de cinema).
De todos os filmes, posso salientar facilmente os maus: Nine, The Lovely Bones, Precious, Humpday, Antichrist e Embargo, não é que sejam de facto péssimos, mas os dois primeiros ainda me causam calafrios. Claro que me desiludi com bons filmes, por esperar demais deles: Social Network, The time that remains, Kynodontas, Vincere, Away we go, Invictus, A Serious Man, Where the wild things are e Bright Star.
Um top há de ser publicado (não que seja segredo algum, ao longo do ano, a lista que se encontra à vossa esquerda, veio sendo actualizada), posso no entanto salientar alguns filmes que embora não sejam os meus preferidos merecem uma atenção especial; a começar por Irene, filme de Alain Cavalier, que é das coisas mais sentidas que os projectores nacionais tiverem o prazer de rodar, assim como o último filme de Rivette - 36 vues du pic saint-loup -, coisa encantada e encantatória; Mammuth é outro exemplo de um filme que toca todos os que a ele se chegam. Podem ser mancos, tortos, estropiados, mas são peças de verdadeiro cinema. [curiosamente tinham que ser todos franceses]
Antes de colocar o ponto final, tenho apenas que lançar umas faiscas para o monte de palha:
- Shirin é a coisa mais pretensiosa que tive o (des)prazer de ver este ano, nem o Albert Serra lhe consegue fazer frente.
- Fazer um top que ponha em primeiro lugar Inception e em segundo Shutter Island (e são muitos) é não perceber que se Scorsese usa o digital com propósito humano e a memória do cinema clássico americano como ponto de partida, enquanto que Nolan usa o digital como forma de encher o olho e a memória do heist movie dos anos 80 como fonte de inspiração.

1.04.2011

Um ano em partes - 2ª Parte

As distribuidoras

Este ano foi de bradar aos céus, por um lado não se estreou o vencedor do oscar de melhor actor principal - Crazy Heart - sendo o filme enviado para a edição directa para dvd (fenómeno não exclusivamente português). Mas pior que isto foi a passagem de Fantastic Mr. Fox e Girlfriend Expirience pelo festival do Estoril com presença do realizador do primeiro e actriz do segundo para depois ser o dvd o seu destino único. Para não falar de Kinatay de Mendoza e o Old Joy da Reichardt, que indo para dvd conseguiram arrastar para as salas os filmes mais recentes dos respectivos realizadores.
Nem tudo é mau e a nova edição restaurada digitalmente de Aniki-Bobó e a respectiva reposição são pontos de orgulho assim como a edição, simultânea com a estreia em sala, do dvd de Lola pela Alambique; ou ainda a estreia de Ruínas juntamente com Canção de Amor e Saúde.
Mas 2010 teve algo que só pode ser explicado pela força dos espíritos malignos ou a profunda incompetência dos profissionais da distribuição de cinema: Whisky e Bombón el Perro são dois filmes de 2004, Inimigo sem Rosto foi filmado em 2006 e claro Wendy & Lucy e $9.99 são de 2008 sendo que o primeiro havia passado no indie Lisboa um ano antes de estrear em sala; porque raio hão de passar seis anos para termos direito a ver os filmes em sala? E por que raio teremos que esperar seis anos para depois termos o filme exibido em apenas uma ou duas salas (em Lisboa e no Porto) por pouquíssimas semanas?

1.03.2011

Um ano em partes - 1ª Parte

Os portugueses

2010 foi um ano curioso, como todos vão sendo à sua maneira. Mas não estou a começar por uma frase vazia de significado, muito pelo contrário; 2010 foi o ano em que mais documentários estrearam em sala (certamente na última década, para não dizer 'de sempre' pois não tenho dados para me basear), nomeadamente documentários portugueses (aliás, José e Pilar é o quinto filme português mais visto do ano e o terceiro documentário português mais visto de sempre), sendo que títulos portugueses (só considerando longas) em sala foram 24 (o máximo nos últimos 5 anos) e curtas foram 8. Podem consultar uma lista dos resultados dos filmes portugueses aqui, apesar de lá faltar o Bobby Cassidy. [congratulo-me de ter visto o paparazzo do Vasconcelos, Desassossego do Botelho, Mistérios do Ruiz, Jose e Pilar,  Funeral à chuva,  Embargo,  Fantasia Lusitana,  Pare, escute e olhe,  Duas mulheres,  Ruínas,  Círculo Perfeito do Marco Martins, Cova da moura do Rui Simões, Lisboa Domiciliária e Vai com vento, sendo que Bobby Cassidy está na box do meo à espera de ser visto]
Mas as curiosidades continuam, dois dos filmes nacionais estreados foram produzidos sem dinheiros públicos, Um funeral à chuva como é sobejamente conhecido e Lisboa Domiciliária, longa documental sobre os idosos lisboetas presos em casa que é dos filmes mais ternos do ano. Além disto, a estratégia de distribuição do Filme do Desassossego mostrou-se um sucesso, fazendo dele o terceiro filmes português mais visto (claro que com uma diferença de mais de 60 mil espectadores para o segundo lugar). Será que se está a verificar uma alteração quer na produção (angariaçãode fundos) quer na distribuição do cinema nacional? E será que o exemplo do Tebas que rondou apenas os cineclubes é a solução a seguir para evitar alguns dos baixos resultados de um certo cinema português?